Folha de S. Paulo


Leandro Hassum vive comediante em crise para fazer milhões rirem

Danilo Verpa/Folhapress
SAO PAULO - SP - 11.05.2017 - Retrato de Leandro Hassum que grava filme em Sao Paulo. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress, ILUSTRADA)
Leandro Hassum vestido de Hamlet nos bastidores da gravação do filme 'Chorar de Rir'

Recordista no cinema brasileiro neste século, com meia dúzia de comédias que ultrapassaram a marca de 3 milhões de espectadores nas salas, Leandro Hassum, 43, interpreta agora um papel que não poderia parecer mais indicado: um ator de comédias de enorme sucesso.

Mas Nilo Perequê, o protagonista do filme "Chorar de Rir", que está sendo rodado em São Paulo, vive uma situação que Hassum avisa não ser autobiográfica. O personagem está cansado da comédia; quer ser ator dramático.

"Tenho vários colegas que passaram por essa angústia de estar na comédia e sentir necessidade de fazer um trabalho sério, mas eu nunca tive isso não", conta Hassum à Folha, num intervalo de filmagens em uma galeria do centro paulistano.

"Eu amo ser comediante. Se amanhã aparecer um papel de psicopata e achar bom, eu vou fazer. Mas fazer rir é tão mágico. É difícil fazer toda uma plateia rir, e eu, graças a Deus, consigo isso em shows de humor para 3.000, 4.000 pessoas. É uma energia muito sinistra."

Para ele, talvez não seja o tipo de comédia do qual o crítico goste, mas este tem de entender o que assiste. "Comédia tem que ser engraçada. Se fez rir, show, funcionou!"

"A comédia popular é o que eu escolhi para trabalhar, estou cagando para o que as pessoas acham. Tem gente que diz que meus filmes são muito 'família'. Sim, são, assim é o filme que eu quero fazer. Falta na crítica quem avalie esse tipo de comédia."

O ator elogia Toniko Melo, diretor de "Chorar de Rir", e afirma que vê surgir no Brasil uma escola de diretores que aprenderam a respeitar o tempo do ator de comédia.

Ele diz que não pede confetes pelos recordes. "O que me preocupa é que falta gente para analisar um tipo de cinema que está resgatando um público que não ia mais ver filme nacional. É um trabalho bacana que traz crianças e famílias de novo para o cinema. Tenho um puta orgulho de fazer parte disso."

TARCÍSIO MEIRA

Hassum completa no final deste mês 28 anos de carreira. Afirma conhecer todos os lados de sua profissão, por isso ela não o deslumbra;

"Construí minha marca desde o tempo que só tinha uma fala, do tipo 'o jantar está servido'. Naquela de dizer "o jantar está servido", dava o máximo, não tinha Tarcísio Meira que fizesse melhor! Poderia não ser tão bom, mas na minha cabeça era assim. Trabalho com vontade de acertar todas as cenas."

Hassum escolheu não falar mais da cirurgia de redução de estômago que o fez perder mais de 60 quilos. Tem medo de que o público pense nele apenas como "o cara que emagreceu".

Mas as pessoas insistem. Ele mora na Flórida, com a família –numa "ponte aérea maluca", como define–, e uma mulher que o abordou no aeroporto o tirou do sério.

"Você e o Jô não têm jeito, né? Emagrecem e perdem a graça", disse a passageira. Ele respondeu: "Minha senhora, estou rico pra caralho, não preciso mais fazer a senhora rir. Pode rir de outra pessoa." "Ah, você ficou chateado?" "Não, a senhora é que foi mal-educada."

Para ele, o povo perdeu a educação. "As redes sociais trouxeram isso. Acham que podem falar qualquer coisa. Não! Todo mundo acha que tem obrigação de ser sincero. Não. Você precisa é ser educado."


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