Folha de S. Paulo


Após polêmica em festival, filme sobre filósofo Olavo de Carvalho estreia

Matheus Bazzo/Divulgação
O filósofo Olavo de Carvalho durante gravação do documentário
O filósofo Olavo de Carvalho durante gravação do documentário "O Jardim das Aflições"

Josias Teófilo diz que estava "de saco cheio" do enfoque social do cinema brasileiro. Decidiu, então, filmar "O Jardim das Aflições", documentário sobre o filósofo Olavo de Carvalho que entrou em cartaz na última semana.

O diretor recifense, 29, abre seu longa em tom solene: uma tomada aérea da região da Virginia, Estado norte-americano onde vive Carvalho, regida pela "Sinfonia nº 1" do finlandês Jean Sibelius.

Todo filmado na casa do filósofo, reúne o que Teófilo chama de "biografia intelectual" do pensador paulista em entrevistas conduzidas pelo jornalista Wagner Carelli –o título do longa é homônimo do livro lançado em 1995 por Carvalho, no qual teoriza que o Estado, independentemente de sua roupagem, sempre tenta ampliar seus domínios.

As conversas são pontuadas por entrevistas antigas de Carvalho e cenas de filmes como "Ivan, o Terrível", de Eisenstein, e "No Tempo das Diligências", de John Ford.

Mas o foco são as falas do filósofo, sem exibir contrapontos a suas ideias. Quando questionado sobre as origens de seus interesses intelectuais, diz que se preocupava com o sofrimento humano.

Defensor do individualismo e crítico ferrenho de movimentos de esquerda, ele exibe em um dos cômodos da casa um pôster com imagem do ex-presidente Ronald Reagan e os dizeres "I want you to fight socialism" (quero que você lute contra o socialismo), alusão ao famoso cartaz em que o Tio Sam convoca tropas para a Primeira Guerra.

Num dos trechos do filme, Carvalho mostra uma das paredes de sua biblioteca em que reúne obras completas de teóricos do comunismo, como Marx e Lênin. "Não tem nenhum comunista que leu tudo isso sobre comunismo", afirma. "Se lesse, não seria mais comunista."

"Jardim" foi bancado com financiamento coletivo. Segundo a produção, tratou-se da maior arrecadação do gênero no país. Foram R$ 315 mil doados por 2.800 investidores, mas ainda há custos a serem cobertos com o retorno de bilheteria do filme.

As entrevistas e fotos também devem render um livro, a ser lançado em breve.

POLEMISTA

Notório crítico da esquerda brasileira, em especial do PT, Carvalho angariou seguidores na internet com vídeos e postagens em redes sociais (seu perfil no Facebook tem mais de 350 mil seguidores).

Também ganhou a alcunha de polemista. Seu retrato em filme não foi menos polêmico.

Já durante a produção, Teófilo diz que ele e o diretor de fotografia Daniel Aragão foram criticados pela classe cinematográfica recifense pela ideologia política do longa.

No início de maio, cineastas retiraram seus filmes do Cine PE em protesto contra obras que consideravam "de direita". Eles se referiam a "Jardim" e "Real - O Plano por Trás da História". O festival, que aconteceria no fim daquele mês, acabou adiado.

"Isso aqui é uma província. Ficou impraticável morar no Brasil", diz Teófilo, que há seis meses mora nos EUA. "Tem muita gente que começa a conspirar contra você."

A repercussão gerou até uma briga entre Teófilo e Aragão, um bate-boca nas redes sociais por discordâncias na produção do filme.

O cineasta afirma que o caso balançou amizades, como a com Kleber Mendonça Filho, de quem foi pupilo. Teófilo e Aragão trabalharam em filmes do diretor como "Recife Frio" e "O Som ao Redor", mas Teófilo afirma que o relacionamento acabou após "Jardim".

Procurado, Kleber disse que "isso nunca aconteceu, obviamente. E desejo tudo de bom para os dois, na vida e no cinema".

O nome diretor de "Aquarius", contudo, aparece nos agradecimentos finais de "Jardim". "Não foi irônico", diz Josias. Sem ele, muito provavelmente eu não teria entrado no cinema. Ele foi muito legal mesmo, acho que ele acreditou em mim antes de minha mãe."

Veja salas e horários de exibição.


Endereço da página:

Links no texto: