Folha de S. Paulo


Sturm nega desmonte da cultura e diz ter mantido todos os programas

Zanone Fraissat/Folhapress
Entrevista com Andre Sturm, secretário de Cultura
Entrevista com Andre Sturm, secretário de Cultura

O secretário municipal de Cultura de São Paulo, André Sturm, afirmou em entrevista à Folha que a sua gestão é de continuidade e de ampliação da diversidade. Para ele, parte dos manifestantes elogiaria suas medidas se o prefeito atual fosse de outro partido.

Sobre acusações de falta de verba, diálogo e respeito a editais e leis, Sturm disse que haverá mais recursos em 2017 que em 2016, que fez mais de 500 reuniões públicas e que grupos querem manter privilégios sem negociar. Ele fala em erros na Virada e que são raros os seus casos de destempero. Leia abaixo trechos da entrevista.

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Folha - O sr. esperava chegar ao sexto mês de gestão com a sede da secretaria invadida?

André Sturm - Não. É um grupo pequeno e pouco representativo. Desde janeiro há protestos. Em um evento, um rapaz disse ter sido destacado para tensionar os eventos que eu fosse. Não querem diálogo ou construir algo. Se a invasão tivesse ocorrido após seis meses, seria uma reprovação. Mas desde janeiro? Parte só quer protestar ou manter privilégios.

O sr. se sente perseguido?

Na sexta (26), fui a uma audiência na Câmara Municipal. Durante uma hora e quarenta minutos, fui atacado, ofendido, provocado. Começaram a gritar "Fora, Sturm". Decidi sair e precisei ser escoltado. Quase fui linchado.

O sr. afirmou que quebraria a cara de um agente cultural.

Fui lá dar uma boa notícia para resolver o uso do espaço. O que me causou aquela reação foi o espanto com a recepção deles. Fora que estava com meus nervos à flor da pele após aquele evento na Câmara.

Seu temperamento é condizente com a função que exerce? Gestores são alvo de pressão.

Sou atacado semana sim, semana não. Se alguém dialogou, fui eu. Fiz mais de 500 reuniões. Que eu possa ter reagido de maneira agressiva, conto os casos numa mão. Sou ser humano. Há limite. Se não fosse secretário, sairia na mão, usando figura de linguagem. Eles ofendem num nível...

Artistas, produtores e agentes falam em desmonte e pedem o descongelamento de verbas.

Nenhum programa foi eliminado ou alterado substancialmente. Parte perdeu verba, mas é uma decisão de governo. Batalho semanalmente pelo descongelamento de verbas. Conseguimos R$ 45 milhões dos quase R$ 100 milhões contingenciados para programas.

Os manifestantes que estavam na secretaria dizem que o sr. não dialoga e que muito do que foi acordado com a pasta não foi cumprido.

Não fiz nenhuma promessa que não cumpri. Duvido que alguém possa provar isso. No caso da dança, eles levaram 16 propostas para mudar o edital. Aceitei 13 delas e esperei a resposta sobre o meio-termo para um 14º, da verba destinada a cada projeto. Eles foram consultar a base sobre o ponto. Uma semana depois, levaram uma carta, um vídeo, dizendo que não há diálogo e que a secretaria não cumpre o acertado. Quem não dialoga?

Você sabe dizer se são os grupos que protestam contra sua gestão?

Há três grupos contrários à secretaria. O da dança, que talvez seja o único que tem motivo para discordar porque eu tomei uma atitude para mudar algo. Eles têm legitimidade. Nenhum programa da gestão passada foi eliminado ou alterado substancialmente. Alguns tiveram menos verba, mas isso é uma decisão de governo. Eu batalho semanalmente pelo descongelamento de verbas. Já descongelamos R$ 45 milhões dos quase R$ 200 milhões contingenciados. E foi tudo para programas. Se descongelar os R$ 100 milhões que os manifestantes querem, eu vou achar ótimo também. Os programas de formação artística, como o Piá e o Vocacional, foram liberados em fevereiro com o mesmo número de vagas.

O sr. já afirmou que parte não quer perder privilégios, mas na área da cultura é comum que conquistas sejam obtidas após muita luta por grupos específicos.

Num encontro, eu fui atacado por pessoas do hip hop, xingado. Semanas depois, criamos um grupo e fizemos o mês do hip hop com R$ 1,6 milhão. Esses caras, a maioria dos quatro cantos da periferia, conseguiram construir uma política pra eles, sem acusações de que aderiram ou isso e aquilo. É um grupo que não é favorecido, briga o dia inteiro por sua vida e pela sua cultura que construiu políticas. E de outro lado tem pessoas que querem liberação de verba na quantidade e do jeito que elas querem, que é o caso de grupos da dança. Eu aceitei fazer dois anos, apresentações não serem só shows. Só não abri mão da quantidade de verba que eles queriam. Não é guerra de versões. São fatos.

Para o sr., a sua gestão então é de continuidade?

Do ponto de vista das políticas, sim. Fizemos coisas novas e pequenas correções.

As mudanças adotadas na Virada Cultural foram acertadas?

Dentro do que esperava, sim.

O sr. esperava shows vazios?

Não. Houve alguns fracassos. Não esperava tão pouca gente no Sambódromo. O centro estava cheio. Limpeza e segurança deram certo. Tivemos problemas em 5 dos 100 palcos. Se tivesse feito essa Virada no governo Haddad, teria recebido prêmio.

Houve censura a manifestações políticas na Virada?

Não, foi uma intimação do Ministério Público. Eles queriam que incluíssemos uma cláusula no contrato, é uma apuração do ano anterior. Nós entregamos os documentos aos artistas, que nem precisavam assinar nada. Foi a edição com mais manifestações políticas, em qualquer palco, mesmo contra o prefeito.

A gestão Doria fez algumas sinalizações, como shows da Virada e grafites em lugares fechados, de reduzir a ocupação do espaço público.

Foi o Ministério Público, e não o prefeito, que falou em multa sobre eventos no Minhocão. Essa impressão decorre de uma fala do prefeito no ano passado, sobre a Virada ir para Interlagos. Criaram a partir daí diversas teorias. Falaram que o Carnaval ser fechado, mas o prefeito nunca falou isso.

A cultura é uma prioridade da gestão João Doria (PSDB)?

Não cabe a mim responder. Fui convidado porque o prefeito queria alguém que fizesse um bom trabalho na Cultura. Ele tem cuidado e atenção.

O sr. é alvo de críticas que visam a figura do prefeito?

É possível. Mas não é a cultura de São Paulo que está contra mim. Se estivesse, eu sairia.

Onde estão as manifestações de apoio à gestão do sr.?

Pessoas têm dificuldade de se manifestar a favor porque são atacadas. Num evento, pedi uma foto com participantes. E ouvi: "A gente está feliz aqui, mas podemos não tirar foto com o senhor?". Dói, mas entendo. Após a gravação, passei a receber apoio. Não deveria ter falado aquilo. Mas quem ouviu tudo percebe que um grupo não quer o diálogo.


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