Folha de S. Paulo


Manifestantes ocupam Secretaria da Cultura e pedem renúncia de Sturm

Reunidos nesta quarta-feira (31) no interior da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, manifestantes da Frente Única da Cultura (FUC) pedem a saída do secretário André Sturm. É o quarto protesto na sede da pasta desde que ele assumiu o cargo, em janeiro.

"Desde quando o secretário entrou tem um processo de escuta, nada do que foi acordado e discutido foi colocado em prática. A FUC se reuniu e diante os atos incriminatórias, racistas e preconceituosos vemos que a única solução é a saída [de Sturm] da secretaria", afirmou Marcelo Nobre, 26, integrante da FUC.

Manifestantes ocupam a Secretaria Municipal de Cultura

Na segunda-feira (29) durante discussão com Gustavo Soares, do Movimento Cultural Ermelino Matarazzo, Sturm disse que iria "quebrar a cara" de seu interlocutor.

Na terça, Sturm disse: "Eu errei ontem, peço desculpas".

O secretário afirmou que o incidente ocorreu quando ele achou que haviam encontrado uma solução para o uso do espaço.

"Aí me disseram que não queriam nada disso, que queriam um auxílio financeiro sem prestar contas". "E começaram a me confrontar, a me confrontar e eu confesso que caí na armadilha. Tanto ele tava mal intencionado que ele estava gravando. Ele queria me estressar", diz Sturm.

Para João Gabriel Buomativa, "esse episódio mostra que o secretário não tem legitimidade". "Como os movimentos vão dialogar com um secretário que afirma que vai dar um soco na nossa cara?"

"A gente não aceita que os cortes sejam sempre mais pesados na cultura", diz Buomativa. A parcela do Orçamento municipal destinada à Cultura sofreu congelamento de 43,5% no começo do ano.

Os manifestantes, que entraram no local às 15h30 e permaneciam ali até as primeiras horas desta quinta (1º), dizem que não sairão enquanto não tiverem suas reivindicações atendidas, entre elas a saída do secretário e o descongelamento da verba municipal destinada a cultura. É a quarta vez que Sturm deixa um prédio público escoltado em razão de um protesto da classe artística –duas na sede da secretaria e outras duas na Câmara Municipal de São Paulo.

Milton Flávio, secretário de Relações Institucionais da gestão João Doria (PSDB), foi à secretaria no fim da noite desta quarta (31) para tentar negociar com os manifestantes. De acordo com o grupo, ele foi e voltou várias vezes, mas não acenou com medidas que pudessem atender as reivindicações do grupo. Os militantes afirmaram que dormiriam ali, mas que se comprometeram a liberar uma das salas do andar do gabinete de Sturm para que funcionários possam trabalhar nesta quinta (1º).

Na última sexta (26), um grupo de manifestantes ligados aos programas Piá e Vocacional já havia pedido a renúncia do secretário. Os projetos oferecem oficinas de dança, teatro, artes plásticas, entre outros, a crianças e jovens e foram interrompidos. A pasta afirma que havia problemas nos editais, mas os profissionais que atuavam nos programas dizem que as medidas foram políticas.

A Secretaria Municipal de Cultura lamentou em nota, divulgada no começo da noite, a ocupação do edifício.

No texto, a SMC diz que o secretário André Sturm precisou fazer uma "barricada" para impedir a invasão de seu gabinete pelos manifestantes, e que a Guarda Civil Metropolitana foi chamada a fim de negociar uma "desocupação pacífica". Procurado pela Folha, disse que não comentaria o acontecido.

A Guarda Civil disse que permaneceria no local para garantir que não haja danos ao patrimônio.

Leia abaixo a íntegra da nota da SMC:

"A Secretaria Municipal de Cultura lamenta a invasão de sua sede na tarde desta quarta-feira, dia 31 de maio. Os funcionários trabalhavam cumprindo agenda intensa de reunião quando foram surpreendidos por ruidosos gritos de um grupo de pessoas que tomou o saguão do 11º andar e iniciou a invasão do gabinete desta SMC.

O secretário André Sturm precisou fazer uma barricada para garantir que a porta do gabinete não fosse derrubada. Servidores da sala da assessoria técnica, que fica ao lado do gabinete, foram expulsos do seu local de trabalho e tiveram que se refugiar em outro andar da Secretaria, sendo que suas salas ficaram ocupadas por faixas e cartazes com mensagens ofensivas.

A GCM foi chamada para garantir a segurança dos servidores e tentar negociar uma desocupação pacífica.

Esta postura agressiva e desrespeitosa, ao contrário do que afirmam os manifestantes, não demonstra interesse em dialogar ou construir políticas para a cultura da cidade, sem propostas ou pauta concretas.

A SMC reafirma o compromisso com estes princípios e em defesa da cultura da cidade de São Paulo."


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