Folha de S. Paulo


Livro revê design conciso da Baraúna, marcenaria criada por três arquitetos

"Nunca fomos novidadeiros", diz Marcelo Ferraz. Poderia ser uma sentença de morte num mercado que quer sempre o mais novo. Mas a Marcenaria Baraúna se manteve fiel ao seu desejo de criar móveis feitos para "parar em pé com o menor esforço possível" e que mostram sua estrutura sem disfarces, revelando a verdade de seu projeto.

Por meio do livro "Marcenaria Baraúna, Móvel como Arquitetura", que comemora os 30 anos da empresa, é possível ver e compreender a concisão e a unidade sem maneirismos de sua produção.

Ou, como bem diz Mina W. Hugerth, em texto que integra o volume, a Baraúna forjou "um léxico projetual duradouro", baseado em "soluções existentes e sedimentadas". "Nesse móvel não há licenças poéticas para se criar narrativas alegóricas ou inúteis'', escreve, para explicar a expressão "móvel de arquitetura".

"É um design sem bagaço", brinca Ferraz. "Como na poesia, em que não pode sobrar palavra", compara.

Talvez o exemplar mais eloquente dessas características seja o Banco Caipira, projetado por Francisco Fanucci em 1988, que se inspira na tradição e repropõe a angulação dos dois planos de madeira proporcionando conforto e segurança numa peça mínima, leve, precisa.

No texto "Os móveis são coisas e não imagem das coisas", o crítico português Frederico Duarte sintetiza a união entre prática e projeto: "a partir de um assento encontrado e adquirido no interior do Brasil [...], este banco mostra que através da observação e uma incorporação da maneira de sentar e usar as coisas se pode honrar tanto a essência como a persistência da forma. Como? Lapiseira e formão".

A marcenaria foi fundada em 1987 pelos arquitetos Francisco Fanucci, Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki, em atividade paralela ao escritório Brasil Arquitetura, nascido em 1979 e que assina, entre outras obras, a Praça das Artes, no centro de São Paulo.

Na gênese da Baraúna está a colaboração com Lina Bo Bardi nas obras do Sesc Pompéia, em SP, e na Casa do Benin e o Teatro Gregório de Mattos, na Bahia. Foi para esses espaços coletivos que nasceram os projetos das cadeiras Girafa e Frei Egídio, as primeiras peças da marcenaria.

Essa herança, seus desdobramentos e sua inserção na história do design brasileiro são analisados com o rigor e a riqueza habituais pela crítica e professora Ethel Leon no texto "Marcenaria Baraúna, o design como imperativo moral".

Fartamente ilustrado com croquis e fotos de Nelson Kon e Bob Wolfenson, o livro traz histórias de cada peça e mostra também projetos feitos sob medida.

E a Baraúna tem agora representação comercial exclusiva da loja Dpot para seus móveis de linha.

MARCENARIA BARAÚNA: MÓVEL COMO ARQUITETURA
EDITORA Olhares
QUANTO R$ 100 (160 págs.)
LANÇAMENTO ter. (30), às 18h, na Dpot (al. Gabriel Monteiro da Silva, 479, São Paulo, tel. 11-3082-9513)


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