Folha de S. Paulo


crítica

Filme 'Real' promete aventura intelectual, mas frustra espectador

REAL - O PLANO POR TRÁS DA HISTÓRIA (ruim)
DIREÇÃO Rodrigo Bittencourt
ELENCO Emílio Orciollo Netto, Norival Rizzo e Paolla Oliveira
PRODUÇÃO Brasil, 2017, 12 anos
QUANDO estreia nesta quinta (25)

*

O título, "Real - O Plano por Trás da História", é tão bombástico quanto enganador. Desde a primeira cena o que vemos ali é a cinebiografia de um dos economistas envolvidos com o célebre plano que tirou o país da hiperinflação durante o governo Itamar Franco, nos anos 1990.

E, dizendo Itamar, surge logo a questão: quem é o verdadeiro pai do Real? Itamar sempre se tomou por esquecido; FHC, seu ministro da Economia, elegeu-se presidente graças a ele (ao plano, não a Itamar); Pérsio Arida e André Lara Resende ficaram com a fama de principais autores intelectuais do plano.

Sim, havia outros. Entre eles Gustavo Franco, para quem restou a fama de ter detonado o plano. Bem, o filme tem outras ideias a respeito.

"Real" é, a rigor, uma cinebiografia nos anos do Real. E, para o filme, na elaboração do plano não existia senão um gênio: Gustavo Franco, precisamente. Acompanhado, sim, por um grupo de aplicados coadjuvantes.

Se tudo isso é verdade ou não, não vem ao caso aqui. Mas a opção torna "Real" bem frustrante para o espectador a quem o título promete uma aventura intelectual com ares de epopeia nacional. Nada disso. Nem questões elementares são devidamente respondidas: como os responsáveis foram parar ali? O que cada um pensava? Que experiências tinham?

Disso tudo não saberemos nada. Ou nada que não esteja lá apenas para constar. Tudo que importa é o quanto os economistas (com exceção de seu ex-professor) duvidam do seu saber; o quanto FHC e Itamar não entendem bulhufas do que se está fazendo (Itamar sobretudo, claro). Os políticos, aliás, nos são apresentados como paródia de políticos, e não deixa de ser sintomático que nesse universo meio chanchadesco o José Serra do filme tenha a voz exata de José Serra...

De resto, a julgar pelo filme os políticos vieram ao mundo para impedir Gustavo Franco de se tornar um Napoleão tropical (Napoleão é uma referência do personagem, só que o efeito nos remete mais ao Rubião de "Quincas Borba").

De resto, os coadjuvantes existem para dialogar com Franco, afirmar seu gênio e garantir que ele não está louco e é quem sabe das coisas.

Por fim, a genialidade que o filme atribui a Gustavo Franco –uma espécie de salvador da pátria incompreendido– tem seu espelho no mau gênio do personagem para as relações pessoais.

O destino que Franco e o Plano Real tiveram aqui serve, no fim das contas, para rir, ou para chorar. Enfim, bem pouco.


Endereço da página:

Links no texto: