Folha de S. Paulo


crítica

Assistente de Kubrick cresce quando não faz generalização

Divulgação
Leon Vitali e Stanley Kubrick em cena do documentário
Leon Vitali e Stanley Kubrick em cena do documentário

Filmworker (bom)
DIREÇÃO Tony Zierra
PRODUÇÃO EUA, 2017

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O baú de memórias sobre Stanley Kubrick (1928-1999) parece longe de esgotado. Cannes Classics lançou na última sexta (19) a mais nova contribuição fílmica para o anedotário póstumo kubrickiano: "Filmworker" (operário do cinema), de Tony Zierra.

O britânico Leon Vitali, 68, assume finalmente o protagonismo depois de ter passado um quarto de século sob a batuta de Kubrick. Vitali era um ator de televisão quando conseguiu um papel secundário, mas importante, como o Lord Bullingdon de "Barry Lyndon" (1975). A química entre eles funcionou e Kubrick o chamou para assistente e produtor de elenco em seu filme seguinte, "O Iluminado" (1980).

Foi durante o processo de escolha dos atores que Vitali deixou sua impressão digital mais indelével no cinema de Kubrick. Ao testar duas irmãs gêmeas, lembrou da célebre foto de Diane Arbus (1923-1971) e propôs ao diretor aproveitar a dupla. Nascia um dos ícones mais aterrorizadores do cinema contemporâneo.

Intérpretes de filmes de Kubrick como Ryan O'Neal ("Barry Lyndon") e Matthew Modine ("Nascido para Matar") depõem no filme sobre a devoção de Vitali ao cineasta. "Havia uma fidelidade extrema", atesta Modine.

Magérrimo, eterna toca na cabeça, cabelos lisos até os ombros, Vitali parece um hippie renitente nas entrevistas para Zierra, assim como na plateia da sessão de estreia. Quando não cai em generalizações sobre como Kubrick "deu o máximo" e foi "o maior", seu depoimento cresce em interesse.

Tornado seu assistente pessoal, trabalhando 24 horas por dia, sete dias por semana, Vitali lembra como "Kubrick foi ficando cada vez mais tenso" com a extensão das filmagens de "Nascido para Matar" (1987). Doze anos mais tarde, no final da longuíssima produção de "De Olhos Bem Fechados" (1999), com Nicole Kidman e Tom Cruise, na qual Vitali fez uma ponta como o mestre de capa vermelha da sequência da orgia, o assistente o achou "muito, muito cansado".

Poucos dias depois de acabar de montá-lo, Kubrick morreu, em 7 de março de 1999. Na noite anterior, ele e Vitali conversaram por telefone por duas horas e meia.

Desde então, Vitali tem aplicado o perfeccionismo obsessivo treinado com Kubrick no restauro de seus filmes.


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