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Netflix estreia em Cannes sob vaias e falha técnica

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Cena do filme 'OKJA', de Bong Joon Ho, em competição na 70ª edição do Festival de Cannes
Cena do filme 'Okja', de Bong Joon Ho, em competição na 70ª edição do Festival de Cannes

A Netflix estreou em Cannes nesta sexta (19) sob vaias de parte da plateia e problemas técnicos que atrasaram em mais de 15 minutos a exibição para a imprensa de "Okja", aventura dirigida pelo sul-coreano Bong Joon Ho com elenco hollywoodiano.

Simbólico até. A Netflix, que tem duas produções na competição no festival deste ano, está no centro da controvérsia que tem mobilizado paixões na atual edição da mostra. O serviço de vídeo sob demanda não deixou claro se pretende lançar seus dois filmes nas salas comerciais após o festival; é certo que na maior parte dos países, ambos irão direto para a plataforma.

Coube à atriz Tilda Swinton, no elenco de "Okja", a tarefa de tentar apagar o incêndio.

"Há espaço para todos na festa", disse, em resposta à declaração do cineasta Pedro Almodóvar, presidente do júri, que disse não se imaginar dando a Palma de Ouro a uma produção que não fosse ser exibida na tela grande.

"O manifesto [lido por Almodóvar na abertura do festival] é importante", disse Tilda. "Mas nós não viemos a Cannes pelos prêmios. Há outras dezenas de filmes exibidos aqui que jamais serão exibidos nas salas por problemas de distribuição."

Ao seu lado, Bong Joon Ho concordou. "Já estarei feliz de poder exibi-lo hoje à noite na tela grande", disse, referindo-se à sessão de gala. Bong é diretor de "Mother-A Busca pela Verdade" (2009), "O Hospedeiro" (2006) e "O Expresso do Amanhã" (2013).

Trailer de 'Okja'

Controvérsia à parte, "Okja" não faz mesmo o perfil de um ganhador da Palma de Ouro. É um filme "mais fofo" do que as produções tradicionalmente exibidas em Cannes. Na trama, a menina sul-coreana Mija (An Seo Hyun) precisa resgatar sua fera de estimação, Okja, das mãos dos executivos gananciosos liderados pela personagem de Tilda.

O bicho, criado digitalmente, é um misto de hipopótamo e porco gigante com algo do dragão de "A História sem Fim". O prólogo do filme explica que ele é fruto de um experimento transgênico distribuído a pequenos fazendeiros ao redor do mundo com o objetivo de ser alimentado e depois virar comida distribuída em escala industrial.

Na jornada de Mija, a garota encontra um grupo radical de defesa dos animais chefiado por Jay (Paul Dano) e um patético apresentador de televisão vivido por Jake Gyllenhaal, que imita tiques daquelas manjadas atrações sobre natureza selvagem.

Na manhã de sexta, a exibição para a imprensa começou com falhas técnicas. Um problema na projeção fez com que ela se espraiasse para além da tela grande, o que despertou vaias entre as mais de 2.300 pessoas que lotaram a sala do Grand Théâtre Lumière.

Interrompida por mais de 15 minutos, a exibição foi corrigida. Ainda assim, quando o logotipo da Netflix apareceu na tela, foi vaiado por parte do público europeu, que parecia ter tomado as dores dos exibidores tradicionais, em pé de guerra com os serviços de vídeo sob demanda.

O jornalista GUILHERME GENESTRETI se hospeda a convite do Festival de Cannes


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