Folha de S. Paulo


Crítica

'Um Casamento' expõe produção com coragem

Divulgação
Maria Moniz no dia de seu casamento, em 1954, na Bahia
Maria Moniz no dia de seu casamento, em 1954, na Bahia

Um Casamento (muito bom)
DIREÇÃO: Mônica Simões
PRODUÇÃO: Brasil, 2016, livre
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O documentário "Um Casamento" é como uma escultura do Mestre Didi (1917-2013), baiano como a principal figura do filme, Maria Moniz. Ambos podem ser vistos por vários ângulos, e todos são surpreendentes.

A partir da descoberta da filmagem do casamento dos seus pais, em 1954, a diretora Mônica Simões decidiu contar a história da união do casal, formado pelo professor Ruy Simões e por Maria Moniz, que mais tarde se tornaria atriz.

Além das imagens da época, a cineasta se baseia nas lembranças da mãe, uma mulher de 82 anos. O prólogo pode insinuar um filme delimitado pelas convenções românticas de uma sociedade conservadora, mas bastam alguns minutos, contudo, para que percebamos que nada é o que parece ser.

Os caminhos tomados por Maria não se acomodavam ao seu tempo. Nesse sentido, "Um Casamento" é uma obra profundamente feminista.

A trajetória da atriz, que se destacou no cinema e no teatro da Bahia a partir dos anos 1960, resulta instigante por si só, o que não impede que outras camadas do filme se revelem. O documentário também trata da íntima ligação entre as mulheres da família e a imagem.

A mãe, Maria Moniz, lembra a juventude ora com discreto prazer, ora com angústia. A nostalgia fica de lado. Já a sua filha, a diretora Mônica Simões, tem saudade de um tempo que não viveu.

Aliás, a presença da cineasta diante das câmeras nos leva a um outro aspecto. "Um Casamento" expõe seus métodos de produção com uma coragem incomum.

Acompanhamos Mônica Simões orientando sua mãe em frases como "O mais importante vai ser sua espontaneidade". O quanto há de artifício no documentário? A cineasta não oferece respostas, mas joga com esses limites do início ao fim.


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