Folha de S. Paulo


Mostra no MAM analisa o surgimento do impressionismo nos trópicos

Dois homens minúsculos aos pés de um rochedo onde quebram as ondas da baía de Guanabara são o marco zero do impressionismo no Brasil.

Essa tela do alemão Georg Grimm, pintada ao ar livre numa Niterói ainda um tanto selvagem no fim do século 19, está no centro de uma mostra agora no Museu de Arte Moderna, que relaciona o surgimento da vanguarda europeia à forma como o estilo ganhou corpo nos trópicos.

Na base dessas duas vertentes, no caso, está um impulso menos romântico e mais material. É fato que havia um gosto por representações da natureza nesse estilo pelo menos desde o surgimento dos pitorescos jardins ingleses cem anos antes, mas só uma revolução industrial acabou viabilizando expedições de artistas para pintar ao ar livre.

Divulgação
Quatro Cabeças', tela de 1906, de Renoir, na mostra 'O Impressionismo e o Brasil
'Quatro Cabeças', tela de 1906, de Renoir, na mostra 'O Impressionismo e o Brasil'

"O impressionismo só pôde existir com a fabricação de todas as cores em tintas sintéticas", observa Felipe Chaimovich, que organiza a mostra. "Um quadro de impressão tinha de ser feito em no máximo duas horas, senão a luz mudava. E isso era impossível se o pintor tivesse de preparar na hora todos os matizes."

Esse dado industrial, aliás, levaria Marcel Duchamp, pai da arte contemporânea, a dizer que toda pintura feita depois da invenção dessas tintas já era um ready-made, ou seja, um produto de uma nova era, já distante da ideia do artista boêmio e solitário, isolado da dinâmica feroz dos movimentos econômicos.

Numa velocidade surpreendente para a época, esse fenômeno das tintas comerciais chegou a um Rio ainda às voltas com a pintura acadêmica uma década depois da primeira mostra dos impressionistas parisienses.

Divulgação
Crepúsculo', tela de 1895, de Antonio Parreiras, na mostra 'O Impressionismo e o Brasil
'Crepúsculo', tela de 1895, de Antonio Parreiras, na mostra 'O Impressionismo e o Brasil'

Em 1880, houve uma explosão de lojas de materiais de artistas na então capital do país, que anunciavam pincéis, cavaletes dobráveis e tintas em tubos metálicos como uma grande novidade.

Mas enquanto franceses -e a mostra no MAM abre com uma série de telas de Renoir, mostrando como o impressionismo foi além das paisagens- retratavam almoços na relva nos bosques nos arredores de Paris ou belas cortesãs nos cabarés, o impressionismo brasileiro entrou em ação com pegada mais rústica.

"Eles pintavam de espingarda na mão", diz Chaimovich, sobre pioneiros do impressionismo tropical, como Antonio Parreiras e o italiano Giovanni Battista Castagneto. "Entravam na mata virgem."

Divulgação
Marinha', tela 1898, de Giovanni Battista Castagneto, na mostra 'O Impressionismo e o Brasil
'Marinha', tela 1898, de Giovanni Battista Castagneto, na mostra 'O Impressionismo e o Brasil'

Grimm, no caso, liderou esse movimento na contramão dos salões burgueses da época. Numa briga com outros professores da Academia Imperial de Belas Artes, de onde acabaria demitido, ele levava alunos para pintar ao ar livre.

Mais radical, Castagneto deixou a terra firme e fez uma série de marinhas de dentro de seu barco, dando movimento a telas encharcadas de uma luz azulada.

O IMPRESSIONISMO E O BRASIL
QUANDO abre na ter. (16), às 20h; de ter. a dom., das 10h às 17h30
ONDE MAM, pq. Ibirapuera, portão 3, tel. (11) 5085-1300
QUANTO R$ 6, grátis aos sábados


Endereço da página: