Folha de S. Paulo


Análise

Coleção de Hecilda e Sergio Fadel prefere museus a casas fechadas

A importância da coleção de Hecilda e Sergio Fadel, morto na semana passada, reside não só na qualidade e quantidade de obras mas também no aspecto público que esse acervo sempre imprimiu.

Ao contrário de colecionadores que compram muito, mas deixam suas obras trancadas, a coleção dos Fadel tem sido vista de forma regular, às vezes em amplos conjuntos, como em Buenos Aires, no Malba, às vezes em empréstimos para mostras que não abordam apenas essa coleção.

No Brasil, o conjunto foi visto na inauguração do Museu de Arte do Rio (MAR), em 2013. Onze anos antes, parte das obras-primas foi apresentada no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio e de São Paulo.

Dar visibilidade a um conjunto tão significativo parte da disponibilidade em despir as paredes da residência e da fazenda do casal, já que é nesses locais que as cerca de 1.500 obras estão distribuídas.

Antônio Gaudério/Folhapress
ORG XMIT: 133601_0.tif O colecionador Sérgio Sahione Fadel com sua filha Marta Fadel exibe a coleção e quadros no apartamento da família, no Rio de Janeiro (RJ). (Rio de Janeiro (RJ), 04.04.2000, Antônio Gaudério/Folhapress. DIGITAL)
O colecionador Sérgio Fadel com sua filha Marta Fadel no apartamento da família, no Rio de Janeiro

Não se trata de um acervo constituído para ganhar valor, mas para conviver. A coleção recobre toda a história de arte produzida no país, desde a invasão holandesa, no século 17, até a arte atual, um recorrido que a maioria dos museus locais não consegue dar conta.

Entre as obras mais importantes da coleção, estão peças barrocas de Aleijadinho e diversos acadêmicos em momentos experimentais, como Belmiro de Almeida, com a pintura "Maternidade em círculos" (1908), uma obra modernista muito anterior à Semana de 1922.

Do modernismo brasileiro, há trabalhos significativos de praticamente todos os artistas do período: de Vicente do Rego Monteiro à Victor Brecheret, de Anita Malfatti –com a "A Onda"– à Tarsila do Amaral, com "Morro da Favela", de Maria Martins a Guignard, de Volpi a Di Cavalcanti.

Quando da concepção do MAR, uma das possibilidades era que essa coleção fosse ali sediada, mas as negociações acabaram não tendo sucesso.

O casal, entretanto, manifestava a intenção de transferir o acervo para um lugar definitivo. O que o Instituto Brasileiro de Museu (Ibram), ligado ao governo federal, está aguardando para viabilizar o destino que essa coleção merece?


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