Vestido de negro, com os traços do rosto que não deixam dúvida de que se trata do filho do mais famoso narcotraficante de todos os tempos, mas com um sorriso e uma cordialidade constantes, Juan Pablo Escobar, 40, recebe a Folha para uma conversa sobre "Pablo Escobar em Flagrante", na Feira Internacional do Livro de Buenos Aires.
No livro anterior, "Pablo Escobar - Meu Pai", ele contava os principais eventos dos anos da guerra do narcotráfico em Colômbia (décadas de 1980 e 1990), e apontava para seus familiares como cúmplices na captura e morte de Pablo Escobar (1949-93), então líder do Cartel de Medellín. Neste novo volume, o autor se coloca na posição de ouvinte.
Danilo Fernandes/Brazil Photo Press/Folhapress | ||
Juan Pablo Escobar lança obra em livraria de SP |
Juan Pablo se dedica a entrevistar ex-paramilitares que participaram da caça a seu pai, filhos de vítimas de Escobar, ex-guerrilheiros e políticos.
Parte dos episódios é inédita. Ocorreram em áreas que eram naquela época eram terras sem lei, sem cobertura midiática ou presença do Estado.
Outros casos jogam dúvidas em eventos tidos como resolvidos, como a invasão do Palácio de Justiça por guerrilheiros do M-19, em 1985, e o assassinato do então candidato Luis Carlos Galán, em 1989.
"Nos dois livros há uma coisa que não muda. Nunca justifico as coisas horríveis que meu pai fez. Busco reconciliar-me com meu passado e tentar tirar dessa experiência dolorosa algo bom: contar uma história para que não se repita."
Em uma das passagens, Juan Pablo encontra Aaron Seal, filho do piloto norte-americano Barry Seal, que trabalhou para Pablo Escobar, transportando a cocaína fabricada na Colômbia aos EUA.
"Sim, porque existe a ideia de que, do lado americano, não há cartéis nem gente que faça a distribuição. É como se a droga chegasse às pessoas por Fedex", diz, irônico.
"Nos EUA há chefões que fazem com que os narcos latinos se pareçam a bebês de colo. Mas deles ninguém fala."
Barry Seal trabalhou para Escobar até ser recrutado pela CIA. Quando o colombiano descobriu, ordenou seu assassinato. Hoje, Aaron Seal e Juan Pablo Escobar são amigos, como me mostra o segundo, exibindo em seu celular os "chats" de ambos. "Ele também crê que devemos pedir perdão àqueles a quem nossos pais causaram sofrimento. Como pedi a ele porque meu pai matou o dele."
Juan Pablo espera que seus livros tenham o efeito oposto ao de produtos da indústria cultural como a série "Narcos", que glamourizam o tráfico.
"Recebo mensagens de meninos do mundo todo que se fantasiam como meu pai. É terrível. Isso ocorre porque 'Narcos' passa a ideia de que ser bandido é uma festa e não mostra o sofrimento que o crime causa."
Ele defende a legalização das drogas. "A proibição é um grande negócio, e financia a política. No dia em que não proibirem mais, a violência também acaba", declara.
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Juan Pablo exemplifica com a sua própria história de vida. "Mataram meu pai e, no dia seguinte, não faltou 1g de cocaína no mercado. Há mais variedade e quantidade de drogas. Não adianta caçar chefões, levantar muros. A proibição é a garantia de que a guerra continua. Proíbam a pizza, e amanhã haverá guerras e mortes por causa dela."
PABLO ESCOBAR EM FLAGRANTE
AUTOR Juan Pablo Escobar
TRADUÇÃO Bruno Mattos
EDITORA Planeta
QUANTO R$ 34,90 (256 págs.)