Folha de S. Paulo


'Série passa a ideia de que ser bandido é uma festa', diz filho de Pablo Escobar

Vestido de negro, com os traços do rosto que não deixam dúvida de que se trata do filho do mais famoso narcotraficante de todos os tempos, mas com um sorriso e uma cordialidade constantes, Juan Pablo Escobar, 40, recebe a Folha para uma conversa sobre "Pablo Escobar em Flagrante", na Feira Internacional do Livro de Buenos Aires.

No livro anterior, "Pablo Escobar - Meu Pai", ele contava os principais eventos dos anos da guerra do narcotráfico em Colômbia (décadas de 1980 e 1990), e apontava para seus familiares como cúmplices na captura e morte de Pablo Escobar (1949-93), então líder do Cartel de Medellín. Neste novo volume, o autor se coloca na posição de ouvinte.

Danilo Fernandes/Brazil Photo Press/Folhapress
SÃO PAULO, SP, 27.04.2017- LIVRO-SP- Juan Pablo Escobar, filho do narcotraficante colombiano, Pablo Escobar, durante o lançamento do seu livro, na livraria da Vila, que fica no bairro da Vila Madalena na zona oeste de São Paulo, na noite desta quinta-feira, (27). (Foto: Danilo Fernandes/Brazil Photo Press/Folhapress) *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***
Juan Pablo Escobar lança obra em livraria de SP

Juan Pablo se dedica a entrevistar ex-paramilitares que participaram da caça a seu pai, filhos de vítimas de Escobar, ex-guerrilheiros e políticos.

Parte dos episódios é inédita. Ocorreram em áreas que eram naquela época eram terras sem lei, sem cobertura midiática ou presença do Estado.

Outros casos jogam dúvidas em eventos tidos como resolvidos, como a invasão do Palácio de Justiça por guerrilheiros do M-19, em 1985, e o assassinato do então candidato Luis Carlos Galán, em 1989.

"Nos dois livros há uma coisa que não muda. Nunca justifico as coisas horríveis que meu pai fez. Busco reconciliar-me com meu passado e tentar tirar dessa experiência dolorosa algo bom: contar uma história para que não se repita."

Em uma das passagens, Juan Pablo encontra Aaron Seal, filho do piloto norte-americano Barry Seal, que trabalhou para Pablo Escobar, transportando a cocaína fabricada na Colômbia aos EUA.

"Sim, porque existe a ideia de que, do lado americano, não há cartéis nem gente que faça a distribuição. É como se a droga chegasse às pessoas por Fedex", diz, irônico.

"Nos EUA há chefões que fazem com que os narcos latinos se pareçam a bebês de colo. Mas deles ninguém fala."

Barry Seal trabalhou para Escobar até ser recrutado pela CIA. Quando o colombiano descobriu, ordenou seu assassinato. Hoje, Aaron Seal e Juan Pablo Escobar são amigos, como me mostra o segundo, exibindo em seu celular os "chats" de ambos. "Ele também crê que devemos pedir perdão àqueles a quem nossos pais causaram sofrimento. Como pedi a ele porque meu pai matou o dele."

Juan Pablo espera que seus livros tenham o efeito oposto ao de produtos da indústria cultural como a série "Narcos", que glamourizam o tráfico.

"Recebo mensagens de meninos do mundo todo que se fantasiam como meu pai. É terrível. Isso ocorre porque 'Narcos' passa a ideia de que ser bandido é uma festa e não mostra o sofrimento que o crime causa."

Ele defende a legalização das drogas. "A proibição é um grande negócio, e financia a política. No dia em que não proibirem mais, a violência também acaba", declara.

Pablo Escobar em Flagrante
Juan Pablo Escobar
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Juan Pablo exemplifica com a sua própria história de vida. "Mataram meu pai e, no dia seguinte, não faltou 1g de cocaína no mercado. Há mais variedade e quantidade de drogas. Não adianta caçar chefões, levantar muros. A proibição é a garantia de que a guerra continua. Proíbam a pizza, e amanhã haverá guerras e mortes por causa dela."

PABLO ESCOBAR EM FLAGRANTE
AUTOR Juan Pablo Escobar
TRADUÇÃO Bruno Mattos
EDITORA Planeta
QUANTO R$ 34,90 (256 págs.)


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