Folha de S. Paulo


CRÍTICA

'A Autópsia' vai bem na primeira metade, mas descamba no fim

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Cena do filme 'A Autópsia
Cena do filme 'A Autópsia'

Em "A Autópsia", terceiro longa-metragem de André Øvredal, o cotidiano de Tommy (Brian Cox) e de seu filho Austin (Emile Hirsch) é o inverso do sonho habitual das pessoas. Como médicos legistas, eles passam dias e noites abrindo e examinando defuntos levados por policiais, numa espécie de bunker construído no subsolo da casa onde moram.

Até mesmo Emma (Ophelia Lovibond), namorada de Austin, sabe que deve disputar os horários de seu amado com a dedicação que ele dá ao lúgubre trabalho e à assistência que presta ao pai com grande paixão.

Numa determinada noite, o corpo de uma jovem mulher nua, aparentemente sem grandes ferimentos, chega a eles. O policial é taxativo: "preciso da causa da morte até amanhã de manhã". O que implica em mais uma madrugada em vigília para os aventureiros do corpo humano.

O que eles descobrem, contudo, é que o corpo dessa jovem esconde uma série de segredos e nada confirma que ela esteja mesmo morta. Isso obviamente deixa o trabalho deles muito mais complicado, envolvendo até uma certa pesquisa.

Assista ao trailer.

Para a maioria das pessoas, um dos maiores terrores do mundo é ver uma autópsia. O diretor certamente apostou nesse tipo de medo para construir a atmosfera de seu longa.

Desde o famoso quadro "A Lição de Anatomia do Dr. Tulp", de Rembrandt, e do média-metragem "The Act of Seeing With One's Own Eyes", de Stan Brakhage, um dos mais famosos filmes experimentais de todos os tempos, a autópsia ganha um tratamento artístico que visa deixar o espectador em permanente estado de desconforto.

Como sabemos estar diante de um filme de horror, esperamos que coisas ainda mais sinistras irão acontecer. E acontecem. E é quando percebemos que o horror maior era a autópsia mesmo, como também o único quesito de originalidade do filme.

Alguns acontecimentos da segunda metade são mesmo patéticos, quase anulando a atmosfera construída com certa habilidade na primeira. Os atores parecem entender o patético e resolvem aderir a ele em suas interpretações.

Øvredal é funcional no trabalho com a câmera, ciente da necessidade de conduzir o espectador a um estado de grande tensão. Mas em algum momento se perde na condução de um roteiro pouco imaginativo -a não ser para quem considerar que a narrativa circular seja um grande atrativo.

A AUTÓPSIA
(THE AUTOPSY OF JANE DOE)
DIREÇÃO André Øvredal
ELENCO Brian Cox, Emile Hirsch, Ophelia Lovibond
PRODUÇÃO EUA/Reino Unido, 2016, 14 anos
AVALIAÇÃO regular 
Veja salas e horários de exibição.


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