Folha de S. Paulo


Sobrevivente e feliz, Sheryl Crow retoma verve roqueira em nono álbum

Ryan Pfluger/The New York Times
PHOTO MOVED IN ADVANCE AND NOT FOR USE - ONLINE OR IN PRINT - BEFORE APRIL 2, 2017. -- Sheryl Crow at The Bowery Hotel in New York on March 7, 2017. The singer-songwriter reaches back to her 1990s heyday with her ninth album, ìBe Myself.î (Ryan Pfluger/The New York Times)
A cantora e compositora em frente ao The Bowery Hotel, em Nova York

Que o acento caipira e o sucesso não enganem: Sheryl Crow sempre foi roqueira.

Quem atesta é a própria, reconciliada com o rock após imersão na música country.

"Be Myself" marca o retorno à fórmula de hits como "All I Wanna Do". Músicas novas, como "Roller Skate", resumem-na: rhythm & blues + leve rebeldia adolescente + introspecção + faro pop = bem-estar e empoderamento.

"Soa como meus primeiros discos porque foi composto da mesma forma, e com um velho amigo", ela explica.

A cantora se refere a Jeff Trott, com quem produziu os melhores álbuns da carreira: o melancólico "The Globe Sessions" (1998), favorito dela e da crítica, e o ensolarado "C'mon C'mon" (2002).

Rarearam os toques interioranos, em instrumentos como acordeom e banjo, nos quais é fluente —grava também guitarras, violões e contrabaixos. "Tenho muito do country, mas não é mais o mesmo que cresci ouvindo".

E o que ela ouvia? "'Exile on Main Street', dos Rolling Stones." A banda foi essencial para a garota meio atleta, meio "rainha do baile" crescida num então rural Missouri.

Filha de uma pianista e de um advogado, formou-se em composição e deu aula de música antes do primeiro trabalho: um jingle do McDonald's.

Vieram shows como cantora de apoio de Michael Jackson, gravação com Stevie Wonder e o disco de estreia.

A excelência vocal ainda é o maior ativo. Já a ingenuidade lírica ao menos torna verossímeis narrativas de tonalidade teen. Aos 55, ela canta "amo e choro o tempo todo e sinto que não quero crescer".

Ouça no spotify

SUPERMÃE

Mas cresceu e multiplicou: Crow é uma mãe dedicada.

"É uma ocupação em tempo integral, e minha preferida", diz, ao telefone, enquanto toma café em sua casa em Nashville, no Tennessee.

Ali vive com os dois filhos adotados, de 10 e 7 anos, com quem diz mais aprender que ensinar. Inclusive na música: "Gosto de Chainsmokers, eles ouvem bastante", afirma, sobre o duo de pop eletrônico.

Voltou à vida errante: a nova turnê tem 25 datas nos EUA e na Europa. E pode vir ao Brasil, onde cantou em 2001.

Mas, quando não está na estrada, é gente como a gente: namora —a lista de ex inclui Eric Clapton e o ciclista Lance Armstrong— e vê amigos, como Keith Richards.

Nas horas vagas, cozinha, malha e assiste "Stranger Things" e "House of Cards", que, critica, "ficou parecida demais com Washington".

A política é familiar: bisneta de um congressista, é ativa em temas como meio ambiente e prevenção ao câncer. Abriu uma fundação para mulheres carentes após tratar um tumor na mama, em 2007 —teve também um no cérebro.

Declarando-se feminista de longa data, a cantora diz não crer que as relações estejam mais igualitárias. "Ainda se fala mais sobre como uma mulher se veste ou dança do que daquilo que ela canta".

O tempo acabou, ela avisa —12 minutos, usual em entrevistas ao telefone com gente que vendeu 25 milhões de discos. Uma última questão, Ms. Crow: qual o sentido da vida?

"Ouvir a própria voz. Levei muito tempo, mas entendi."

Os amigos Sheryl Crow e Keith Richards


Endereço da página: