Folha de S. Paulo


Morre Eduardo Portella, da Academia Brasileira de Letras, aos 84 anos

Guilherme Gonçalves/Divulgação
Escritor e academico Eduardo Portella. credito: Guilherme Gon;alves / ABL ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Escritor e acadêmico Eduardo Portella

Morreu nesta terça-feira (2) o escritor e membro da ABL (Academia Brasileira de Letras) Eduardo Portella, aos 84 anos, no Hospital Samaritano do Rio de Janeiro.

O velório, que começaria às 19h de terça, na sede da ABL, está marcado para continuar a partir das 7h desta quarta (3), até 10h30, quando será realizada uma missa de corpo presente no local.

De lá, o corpo segue para o enterro, no mausoléu da instituição, no cemitério São João Batista.

Eleito imortal em 1981, ele era o segundo membro mais antigo da Casa de Machado de Assis. Só ficava atrás do ex-presidente José Sarney, que foi eleito em 1980.

Embora nunca a tenha presidido, Portella era um dos imortais mais influentes dentro da estrutura de poder da Academia. Era visto como um dos principais "fazedor de reis" da casa, alguém cuja bênção era vista como fundamental para um novo candidato ser eleito. O último nome que defendeu –e conseguiu eleger, em março– foi o historiador Arno Wehling.

"Ninguém gosta desse título ['fazedor de reis'], porque pode provocar maus sentimentos. Mas era uma pessoa muito hábil, com grande poder de articulação, que só apoiava bons candidatos", diz o poeta e crítico Antonio Carlos Secchin, também imortal.

Sua influência se estendia até a Biblioteca Nacional, que ele presidiu entre 1996 e 2002, a poucas quadras da ABL. Mesmo afastado do comando da instituição, tinha funcionários fiéis a ele e costumava influenciar seus rumos.

Apesar de uma vida acadêmica dedicada à literatura, Portella também fez uma carreira na política.

Além de ter feito parte do gabinete civil de Juscelino Kubitschek, foi ministro da Educação do governo de João Figueiredo, entre 1979 e 1980. Do período, ficou famosa a frase usada pelo imortal ao falar do cargo: "Não sou ministro, estou ministro".

Em 1988, foi nomeado diretor-geral adjunto da Unesco e ficou cinco anos no cargo. Depois, presidiria a conferência geral da instituição entre 1997 e 1999, entre outros cargos que ocupou no exterior.

"Ele foi um testemunho ativo do nosso tempo. Era um homem muito cortês, com sentido de humor, um homem com grande prestígio. Ele atuava na política cultural atualmente com muito brilho e discrição", diz a escritora e imortal Nélida Piñon, amiga de Portella.

Portella nasceu em Salvador em 1932 e formou-se advogado em Pernambuco, em 1955. Ao mesmo tempo, fez cursos de filologia, romanística e crítica literária em Madri, Paris e Roma.

Depois disso, seguiu uma carreira dedicada à literatura –primeiro como crítico, no "Diário de Pernambuco". Então, dedicou-se à vida universitária, chegando a diretor da faculdade de letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1978.

"Fui aluno dele [na UFRJ], foi um professor que me estimulou muito", diz Secchin.

Membro diversas vezes do júri do Prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa, Portella publicou obras como "Teoria Literária" (1976) e "O Intelectual e o Poder" (1986).

SUCESSÃO

Ainda não existe um candidato definitivo para a sucessão de Portella, mas já há um grupo defendendo mais uma candidatura do poeta Antonio Cicero.

Cortejado por imortais amigos seus há anos, Cicero bateu na trave, em março, quando foi derrotado na disputa com Arno Wehling por 18 votos a 15.


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