Folha de S. Paulo


Escritor israelense Amós Oz oferece risada como antídoto ao extremismo

Amós Oz, 77, é um dos principais escritores israelenses -um título que é quase insuficiente para descrever sua importância no cenário cultural desse país.

Nascido em Jerusalém, Oz beira ser um sinônimo da literatura de Israel, nação cuja criação ele testemunhou em 1948. Ele é autor dos clássicos "O Mesmo Mar" e "De Amor e Trevas", transformado em filme, em 2015, por Natalie Portman.

Amós Oz deixou a casa de seu pai aos 14 anos após o suicídio da mãe, uma história que repercutiu em sua obra, e cresceu no kibutz Hulda. Kibutz é o nome dado às comunidades agrícolas israelenses inspiradas pela vida comunitária de base socialista -experiência que escolheu, diz, pelo radicalismo. Foram anos de utopia e desilusão, retratados em "Entre Amigos".

Por coincidências de história e geografia, Oz tratou em diversos momentos de sua obra sobre o extremismo. É, afinal, um tema recorrente ao seu redor. Israel enfrentou diversas guerras desde sua fundação e lidou com ondas de violência. Há ainda instabilidade por razões que incluem a ocupação dos territórios da Cisjordânia, desde 1967, onde palestinos reivindicam o seu próprio Estado. Oz defende a solução de dois Estados.

Troche
Ilustração do artista Troche
Ilustração do artista Troche

Ele ofereceu, em sua ficção, diversos antídotos ao extremismo. Mas um de seus textos mais diretamente relacionados ao tema é "Como Curar um Fanático", publicado recentemente no Brasil. O texto compila um discurso que ele deu em 2002, na Alemanha, após os ataques terroristas às Torres Gêmeas em NY, em 11 de setembro de 2001 -fala ainda atual, em tempos de Estado Islâmico.

Ele disse à Folha, por ocasião do lançamento, que uma das batalhas destas décadas é aquela travada entre os fanáticos e "o restante de nós". Extremistas têm uma vantagem, afirmou, ao oferecer respostas simples a um mundo crescentemente complexo. A interpretação vale não apenas ao Estado Islâmico mas também aos populismos de direita e de esquerda que têm se espalhado pela Europa.

Os antídotos propostos por Oz não vêm em frascos de vidro, com cores luminosas. Ele oferece saídas abstratas, como a risada, pois nunca viu, afinal, um fanático com senso de humor. Outra sugestão é a boa literatura, que ensina a enxergar nuances em situações complexas. Esses tons de cinza aparecem em sua própria obra e também na de outros grandes autores israelenses, como David Grossman ("A Mulher Foge").


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