Folha de S. Paulo


Seriado da Globo motiva memes que ironizam crimes da ditadura militar

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Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia em meme pró-Bolsonaro
Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia em meme pró-Bolsonaro

Memes com artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jô Soares, Monique Evans e Chico Buarque estão sendo usados em grupos a favor do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) no WhatsApp e nas redes sociais para ironizar a forma como a ditadura é apresentada na supersérie "Os Dias Eram Assim", que a Globo estreou no dia 17 de abril e que tem o governo militar como pano de fundo.

Em uma das imagens, Gil, Caetano, Gal Costa e Maria Bethânia aparecem se divertindo durante um banho de mar. "Na praia, barbaramente sendo oprimidos pela ditadura", diz a legenda.

Em relatório, a Comissão da Verdade aponta 434 pessoas mortas ou desaparecidas no regime militar (1946-1988). Mortes, torturas, desaparecimentos forçados, ocultações de cadáveres e prisões arbitrárias fizeram parte de uma política sistemática, que funcionou durante os 21 anos de ditadura.

A crítica, segundo os defensores do governo militar, é que a supersérie dá a entender que no período havia apenas desordem, insegurança, abusos e torturas, e as fotos dos artistas críticos ao governo da época se divertindo questiona se houve repressão.

As primeiras imagens ganharam a web tão logo a série foi ao ar, mas tiveram impulso quando o deputado Eduardo Bolsonaro (PSC-SP) publicou um vídeo pedindo a seus seguidores para usarem a hashtag com a expressão "Os Dias Não Eram Assim".

Ele também incentivou montagens com fotos indicando que havia segurança, ordem e educação no governo militar e, do outro lado, assaltos e violência atuais.

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Chico Buarque e Lula em meme que tem viralizado em grupos pró-Bolsonaro
Chico Buarque e Lula em meme que tem viralizado em grupos pró-Bolsonaro

"O enredo tenta dar contornos de romantismo para aquele período e mostra cenas que não condizem com a realidade. Tenta falar que houve perseguição e tortura, como se naquela época as pessoas estivessem andando na rua, falassem mal do governo, e fossem perseguidas", diz o deputado. "A gente sabe que não existe sistema perfeito. Pode ter ocorrido abusos? Com certeza. Agora, colocar isso como se houve uma regra, não", afirma.

Fundadora e vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais, Cecília Coimbra discorda. "Quem dera [se tortura e repressão] fossem exceção", diz.

"Foi uma perseguição sem limites a toda e qualquer pessoa que pensasse diferente do governo. Bastava que você tivesse uma posição diferente ou que houvesse essa suspeita", afirma a professora, que lembra casos de abusos sexuais e torturas físicas e psicológicas nas prisões.

"A gente está contando uma história de amor, que tem como pano de fundo um determinado momento da história do Brasil. Não é um documentário, é uma obra de ficção, que, como outras, provoca reflexões e opiniões. Respeitamos todas elas, mesmo quando não as compartilhamos, pois a TV se faz dessa troca com o público", afirmou a Globo, em nota.

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Monique Evans em meme que tem circulado em grupos pró-Bolsonaro
Monique Evans em meme que tem circulado em grupos pró-Bolsonaro

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