Folha de S. Paulo


Personagem de 'Joaquim' é recorrente em épocas de tensão política

Na crise, Tiradentes surge. O cinema brasileiro parece revisitar o alferes de Vila Rica em momentos de turbulência política."Joaquim", o mais recente, estreia no rastro das manifestações de junho de 2013 e da deflagração da Lava Jato. Mas a cena não é nova.

A controversa figura histórica foi às telas, por exemplo, nos anos de 1948, 1972 e 1998. Vale lembrar que, em geral, filmes começam a ser produzidos anos antes.

"Adaptações da personagem parecem emergir em momentos de dúvida quanto à representação do projeto nacional, ou mais especificamente do projeto democrático e republicano", diz o conservador-chefe da cinemateca do MAM Rio, Hernani Heffner.

Baseado em processos judiciais da conspiração, "Inconfidência Mineira", de Carmen Santos, estreou em 1948. A produção reconstruiu partes de Vila Rica, hoje Ouro Preto.

PERSONAGENS DE TIRADENTES

Dirigido por uma mulher, fato raro então, o longa começara a ser planejado uma década antes, quando começava o Estado Novo, regime ditatorial de Getúlio Vargas.

Em 1972, um dos momentos mais agudos da ditadura militar, Tiradentes voltaria à cena interpretado por José Wilker em "Os Inconfidentes", de Joaquim Pedro de Andrade. O filme estreou em meio a um quadro de instabilidade, repressão e censura mas também de euforia econômica.

Em 1998, "Tiradentes", de Oswaldo Caldeira, surgiu num país pós-Collor e na Nova República. O papel principal coube a Humberto Martins.

Marcelo Gomes, diretor do recente "Joaquim", afirma que o lançamento do longa coincide com o exato momento em que o país repensa suas bases. "Com uma crise política, vem uma crise existencial: quem somos nós, que país queremos construir, que nação é essa", diz.


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