As colegas de trabalho e todo o Brasil sabem: Silvio Santos é um ser bucal. Tem um sorriso marcante, inabalável e jamais, nunca para de falar.
Aproveitando-se desse fato que deleita fãs há mais de 70 anos –primeiro nas ruas do Rio (camelô), depois na barca Rio-Niterói (lendo comerciais), em seguida nas rádios e finalmente nas TVs–, o historiador de TV Fernando Morgado publica um perfil do comunicador intercalado com centenas de suas frases.
Engraçadas, espirituosas, polêmicas, contraditórias, machistas, cabe qualquer adjetivo nessa lista (leia uma seleção de 15 delas nesta página), reunida em "Silvio Santos - A Trajetória do Mito".
Essa última qualidade, machista, não se refere a uma frase do livro, mas a uma fala no "Troféu Imprensa", exibido há dez dias (9/4), que gerou os esperados uivos de reprovação no Facebook.
Ali, Silvio disse à apresentadora Rachel Sheherazade que ela não havia sido contratada para dar opiniões: "Eu contratei você para você continuar com sua beleza e com sua voz para ler as notícias do teleprompter".
"Acredito que foi uma piada infeliz", diz Fernando Morgado, "mas é verdade que ele está em um momento sem noção. Um homem de 86 anos, com sete décadas de carreira, que produz, dirige, apresenta e manda no próprio programa; esse é um terreno fértil para piadas infelizes".
Morgado é professor de história da televisão no Rio, pesquisa Silvio Santos há 15 anos e possui vasto arquivo.
Dessa coleção saiu a maioria das informações da obra, cuja matéria prima foram jornais, revistas e programas.
A obra traz um breve perfil do comunicador Senor Abravanel, dividido em temas: negócios, artista, dono de televisão, política e vida pessoal.
Ao final de cada capítulo, seguem-se as frases escavadas na imprensa, desde os anos 1960 até 2016.
Na segunda (17), Silvio ficou sabendo da existência do livro, e sua secretária ligou na editora pedindo um exemplar. Na terça, o SBT exibiu um misterioso anúncio: um locutor dizia "A trajetória do mito vem aí. Aguardem".
Parece que Silvio não só aprovou mas vai dar uma forcinha para a divulgação.
LEIA 15 FRASES DO PATRÃO
"Eu estou há quarenta anos trabalhando para essa classe com o Baú. É uma classe espetacular. É humilde, é correta. Pobre é o melhor pagador do mundo. A classe média às vezes não paga porque sabe que se a coisa for para a Justiça pode demorar até dez anos"
"Veja", 17 de maio de 2000
"Tá vivo, tá vivo, tá vivo, já morreu, já morreu, tá vivo, tá vivo, tá vivo"
Vendo fotos de jurados do "Show de Calouros" na exposição Silvio Santos Vem Aí no MIS, 12 de dezembro de 2016
"Bom, o Baú precisava de um impulso de publicidade pra poder ir pra frente. Então eu fui fazer propaganda do Baú. Então precisava de uma agência de publicidade que cuidasse disso. Aí a agência não podia ficar única a exclusivamente com a conta do Baú. Seria muito gasto pra isso. Então começamos a pegar outras contas e a agência ficou autônoma. Depois, a gente resolveu dar casas de prêmio. E nós comprávamos as casas. Mas as construtoras nunca entregavam as casas no dia certo. Então montamos uma construtora. Bom, seria desperdício que essa construtora ficasse só construindo casas pra dar de prêmio. Então passamos a construir e vender. Aí criamos um crediário para quem comprasse as casas da nossa construtora. Então montamos o crediário. Mas tinha muita gente que não tinha dinheiro pra comprar ou para gozar dos descontos feitos quando a casa é comprada à vista. Montamos uma financiadora. Mas a financiadora, justamente por ser uma financiadora, não poderia ficar unicamente financiando os crediaristas e compradores de nossas casas. Então passamos a financiar todo mundo que nos procurasse, como qualquer outra financiadora. É muito mais simples fazer as coisas assim completas"
"A Crítica", 1969
"Eu não sou um homem de televisão. Só estou nela por ser um bom negócio. Um ótimo negócio pra mim"
"A Crítica", 1969
"Acabei com o [plano de saúde] Clam porque diziam que, por ser meu, curava câncer, fazia nascer cabelo na cabeça de careca e, provavelmente, curava até Aids! Sempre que o vendedor está entre mim e o meu freguês, ele conta mentiras"
Programa do SBT, 21 de fevereiro de 1988
"Eu pretendo, imediatamente, atacar a inflação e aumentar o salário mínimo"
Horário político em campanha para presidente, 7 de novembro de 1989
"No meu programa há uma parte com perguntas e respostas. Se em dez perguntas o telespectador não conseguir responder pelo menos seis, ele vira o botão, vai ver outra coisa, diz que o programa está ruim. Mas se ele responde as dez, fica bem com a mulher, com os filhos, com ele mesmo, e fica satisfeito comigo, com o programa, dá audiência, entende?"
"Realidade", setembro de 1969
"Sou a favor da autocensura. Aquilo que não posso ver com a minha mulher e as minhas filhas as filhas dos outros também não podem ver. Eu edito os filmes com a minha mulher, edito as minisséries"
Folha, 21 de fevereiro de 1988
"Foi na rua Ubaldino do Amaral com uma francesa que era a rainha da garotada!"
Contando onde e com quem perdeu a virgindade, no "Show de Calouros" no SBT, 21 de fevereiro de 1988
"E algumas pessoas perguntam pra mim: "Você não vem na minha cidade?". Não, eu não vou poder ir na sua cidade. 'Mas eu não vou ver você de perto?' Vai! Vai me ver de perto! Porque os políticos vão na sua cidade antes das eleições, depois não voltam mais. Eu vou fazer o contrário: como eu não sou político, eu vou na sua cidade depois das eleições agradecer o seu voto"
Horário político em campanha para presidente, 1989
"Vai acontecer uma tragédia. Ele vai me matar se o governador não vier"
Falando com a polícia enquanto era mantido refém em casa pelo sequestrador Fernando Dutra Pinto, 5 de setembro de 2001
"Jornalista que quiser trabalhar comigo não vai ser investigador. Quem tem que investigar é a polícia. Jornalista aprendeu na faculdade a ser idealista, a escrever o que deseja? Então compre uma estação de televisão! Na minha, não! Na minha estação de televisão, enquanto eu viver, jornalista vai procurar as qualidades do ser humano"
Programa do SBT, 21 de fevereiro de 1988
"Eu ia fazer cinema; resolvi que seria mau negócio. Não existem profissionais. Só existe gente amadora, preocupada com o prêmio de Cannes e outros prêmios nossos ou do exterior. Não dá"
"A Crítica", 1969
"Eu não sou obrigado a entender de perfumaria, de banco. Eu não! Isso aí eu boto dinheiro, pago bem os profissionais e eles têm que me dar resultados. E, às vezes, falham. Desta vez, falhou"
Folha, 12 de novembro de 2010, referindo-se ao caso do Banco PanAmericano
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"Só [tenho medo] de doença. Mas não sou hipocondríaco. No meu corpo só entram três drogas: Doce Menor, Synthroide, que é o remédio para a tireoide, e Rohypnol, que uso para dormir"
"Veja", 17 de maio de 2000
SILVIO SANTOS - A TRAJETÓRIA DO MITO
AUTOR Fernando Morgado
EDITORA Matrix
QUANTO R$ 39,90 e 27,90 (digital)