Folha de S. Paulo


'Joaquim', filme de Marcelo Gomes, traz gênese do herói Tiradentes

Se depender apenas dos documentos históricos, há um problema na hora de contar a história de Tiradentes. É que só existem a certidão de batismo e os documentos da devassa portuguesa, com seus depoimentos no período em que ficou preso, no Rio, após ter participado da Inconfidência Mineira.

Tudo o que aconteceu nesse intervalo, que levou o alferes Joaquim José da Silva Xavier a se tornar um herói do processo de independência do Brasil, não está registrado.

Tentar preencher esse espaço é o objetivo de "Joaquim", filme do diretor Marcelo Gomes sobre Tiradentes, que esteve na competição principal do último Festival de Berlim e estreia em São Paulo nesta quinta (20).

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O ator Julio Machado, que protagoniza o filme 'Joaquim', de Marcelo Gomes
O ator Julio Machado, que protagoniza o filme 'Joaquim', de Marcelo Gomes

Nesta segunda (17), a Folha promove a pré-estreia do longa. Após a sessão, haverá debate com o diretor e com os atores Julio Machado e Isabél Zuaa. A mediação será de Guilherme Genestreti, repórter de cinema da "Ilustrada".

"O que mais me estimulou foi imaginar como esse funcionário da coroa portuguesa decide mudar de paradigma e se tornar um rebelde", diz Marcelo Gomes. "Então eu construí uma ficção imaginária, tendo os documentos históricos como referência."

Mas antes de falar da origem de Joaquim era preciso desfazer o mito. Na primeira cena, já pós-condenação, a cabeça de Tiradentes aparece filosofando sobre os motivos que levaram seu dono a ser o único dos inconfidentes condenado à morte.

Daí há um flashback. E conhecemos o alferes Joaquim, um exímio caçador de contrabandista de ouro e que almejava ser promovido a tenente da coroa portuguesa.

"Na nossa história, ele tem obsessão em se tornar um português, o sonho dele é ir para lá", afirma Julio Machado, que vive Tiradentes.

Logo no começo da história, o alferes, com a cabeça cheia de piolhos, tem seus longos cabelos cortados com uma faca pela escrava Preta, desconstruindo assim sua imagem messiânica.

A partir dali, surge um Joaquim nada heróico. Mente e trai para conseguir seus objetivos, sai frustrado quando não consegue a promoção -dada a um português- e acaba enviado a uma precária missão em busca de ouro.

Partem com ele um índio, um negro, um mestiço e um português."Se Tiradentes tomou uma decisão tão radical de se rebelar contra os portugueses é porque conviveu com pessoas que estavam na parte mais cruel da colonização, os índios, os mestiços e os africanos", diz o diretor.

"Se tem algo revolucionário nesse filme é falar da gênese do herói. Ele não foi alguém designado pelos deuses. O mais interessante é que qualquer pessoa, a partir de suas experiências de vida e do que faz com elas, pode cometer um ato histórico."

JOAQUIM
DIREÇÃO Marcelo Gomes
ELENCO Julio Machado, Nuno Lopes, Isabél Zuaa e Rômulo Braga
PRODUÇÃO Brasil, 2017, 16 anos
QUANDO pré-estreia nesta segunda (17), às 20h, no Espaço Itaú de Cinema Frei Caneca (r. Frei Caneca, 569); ingressos gratuitos devem ser retirados na bilheteria uma hora antes do início da exibição; estreia nesta quinta (20)


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