É célebre a frase inicial de "O Mito de Sísifo": "Só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio".
O livro é um ensaio sobre o quanto há de absurdo em viver, escrito pelo franco-argelino Albert Camus (1913-1960) em 1942, tempo em que a Segunda Guerra deixava o mundo ainda mais atormentado.
Na mitologia grega, Sísifo foi condenado a empurrar morro acima, eternamente, uma rocha que rola morro abaixo quando chega ao alto.
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O compositor Rodrigo Campos |
Movido pela leitura do ensaio, Rodrigo Campos compôs oito "Sambas do Absurdo", título do CD no qual está ao lado da excelente cantora Juçara Marçal e do músico e produtor Gui Amabis. As letras são de Nuno Ramos, que tematiza o absurdo também como artista plástico e escritor.
Campos, que completa 40 anos nesta segunda-feira (17), é um dos melhores compositores de sua geração, e o novo trabalho ilumina seu percurso.
Após cantar o mundo a partir de sua aldeia em "São Mateus Não é um Lugar Tão Longe Assim" (2009), ele foi à Bahia ("Bahia Fantástica", 2012) e ao Japão ("Conversas com Toshiro", 2015), sendo alvo de incompreensões que devem ter reforçado o absurdo como um de seus assuntos.
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A cantora Juçara Marçal |
Nas oito faixas do disco de agora (intituladas de "Absurdo 1" a "Absurdo 8"), há notas longas e versos curtos, espaços para reticências e incertezas.
As canções não são tratados explicativos, mas cenas de inquietação e de espanto. Campos e Ramos aprenderam com Paulinho da Viola que ninguém pode explicar a vida em sambas curtos.
A estética, por assim dizer, do CD é uma armadilha para o ouvinte, que encontra poucos momentos de conforto -pensar sobre por que viver incomoda.
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O arranjador Gui Amabis |
Não por acaso, os dois sambas que viraram clipes têm as melodias mais próximas do convencional e cativantes: os de número 5 e 8, sendo este o ponto alto do repertório.
"Diz que o mundo acabou/ Com lábios maquiados", canta Juçara em "Absurdo 1", que resume o CD, com sua colagem de fragmentos, morte e alegria se embaralhando.