Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Argentinos homenageiam Billie Holiday em quadrinhos-jazz

Os argentinos Carlos Sampayo e José Muñoz são considerados dupla de titãs no mundo dos quadrinhos. Sobretudo na Europa, onde publicam (e residem) desde os anos 1970, suas obras são premiadas, veneradas e estudadas como as de mestres.

A americana Billie Holiday -nome artístico de Eleanora Fagan (1915-59)- foi uma titã do jazz. Cantora e compositora conhecida por "Strange Fruit", "Lady Sings the Blues", "Don't Explain" e outras, tinha uma voz poderosa e é lembrada como uma das principais figuras do jazz de Nova York.

Este encontro de titãs é antigo. Apesar das comemorações recentes do centenário de Holiday, em 2015, Sampayo e Muñoz produziram a biografia em quadrinhos da cantora quando sua morte completava 40 anos, nos anos 1980.

Divulgação
Desenho do livro em quadrinhos 'Billie Holiday', de Carlos Sampayo e José Muñoz
Desenho do livro em quadrinhos 'Billie Holiday', de Carlos Sampayo e José Muñoz

O álbum inclusive saiu no Brasil na época, como Billie Holiday -"A Dama Negra do Jazz", pela editora L&PM. A versão que sai agora, pela editora Mino, apaga o subtítulo e tem apresentação mais luxuosa, com prefácio do crítico de jazz Francis Marmande.

Os 40 anos de morte surgem no início da HQ. Um jornalista começa a levantar informações e, ao que parece, este será o fio condutor para conhecermos a vida da cantora.

"Prostituta, alcoólatra, toxicômana. Morre jovem... Uma vida sentimental infeliz... A imprensa marrom vai enfatizar esses aspectos da vida e não a música", reflete o jornalista.

E é basicamente este o foco a partir daí. A adolescência em que foi forçada a se prostituir, o racismo escancarado ao longo da carreira, as bebedeiras e a cocaína. Ela morreu num hospital de NY, de cirrose hepática, algemada à maca por dois policiais. Fora presa ali mesmo por posse de drogas.

É fato que escrever sobre (ou desenhar) a voz dela não se equiparará a ouvi-la. O quadrinho não tem trilha sonora, e os autores buscam compensar com analogias visuais e opção narrativa curiosa. Criam-se cenários de sonho, enfoca-se expressões de esforço típicas de jazzistas e o letreiramento tenta captar variações da voz.

Billie Holiday
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Mas é a narrativa não-linear que vira o verdadeiro jazz. O pretenso fio condutor do jornalista apurando a matéria dá lugar a cenas que se conduzem mais por temas do que por uma biografia cronológica.

É como se os autores estivessem trabalhando variações, pegando tangentes e alçando voos em torno de seu tema. Mais do que contar a história de Holiday, querem aproveitar suas deixas e tocar junto com ela. A ideia de homenagem dos dois à cantora é fazer jazz com quadrinhos. E que bela homenagem.

BILLIE HOLIDAY
AUTORES Carlos Sampayo e José Muñoz
EDITORA Mino
QUANTO R$ 69,90 (80 págs.)


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