Folha de S. Paulo


Crítica

Filme sobre Casanova se torna jogo pós-moderno enfadonho

Divulgação
John Malkovich em 'Variações de Casanova', no qual evoca personagens de outros filmes dele, como 'Ligações Perigosas'
John Malkovich em 'Variações de Casanova'

"Variações de Casanova" tem mais camadas do que uma cebola. Em primeiro lugar, o filme é uma adaptação da peça operística de mesmo nome, de Michael Sturminger.

Nela, a história do libertino Giacomo Casanova (John Malkovich) é entremeada/comentada por árias de óperas de Mozart, como "Don Giovanni", "As Bodas de Fígaro" e "A Escola dos Amantes".

Dirigido por Sturminger, o filme registra uma encenação dessa montagem no lindo Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa, enfocando não apenas o que acontece no palco mas também na plateia e nos bastidores.

Em paralelo à montagem, o filme mostra o encontro, em um palacete entre Casanova, em seus últimos dias de vida, e Elisa von der Recke (Veronica Ferres), que quer comprar os direitos de publicação da autobiografia do sedutor.

Assista ao trailer.

Por vezes, Casanova e Elisa "invadem" a montagem da peça, onde são também interpretados por alter egos mais jovens (o barítono Florian Boesch e a soprano Miah Persson), que se misturam aos personagens criados por Mozart.

Há ainda os bastidores da montagem, com Malkovich interpretando a si mesmo e brincando com a ideia de ser ele também um sedutor.

Nesse entrecho, há referências claras a "Ligações Perigosas" (1988), em que o ator interpretava o libertino Visconde de Valmont, e a "Quero Ser John Malkovich" (1999), igualmente autorreferente.

Ou seja, em um único filme, John Malkovich é um tanto de Casanova, de Don Giovanni, de Valmont e de John Malkovich. Parece confuso. Mas é, sobretudo, enfadonho.

"Variações de Casanova" é o tipo de filme que parece estar a todo momento piscando para o espectador e sussurrando em seu ouvido: "Olha só, mais uma camada! Mais uma referência! Veja como sou esperto".

Por vezes, o filme deixa a impressão de que teria algo a dizer sobre liberdade e convenção social, mas toda sua energia parece empregada em uma brincadeira pós-moderna acumulativa e autocongratulatória.

O problema se agrava quando lembramos que essa figura histórica tão fascinante já foi muito mais bem tratada pelo cinema em "Casanova de Fellini" (1976), "A Noite de Varennes" (1982), de Ettore Scola, e "História de Minha Morte" (2014), de Albert Serra.

No filme de Sturminger, como indica o título, há muitos Casanovas em cena. E, ao final, não há nenhum. Porque o dispositivo do filme se tornou mais importante que o personagem. Depois de descascar tantas camadas, resta o vazio, como na cebola. Antes fosse uma banana.

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VARIAÇÕES DE CASANOVA
DIREÇÃO: Michael Sturminger
ELENCO: John Malkovich, Veronica Ferres, Florian Boesch
PRODUÇÃO: Portugal, França, Áustria, Alemanha, 2014, 14 anos
QUANDO: estreia nesta quinta (13)
Veja salas e horários de exibição.


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