Folha de S. Paulo


CRÍTICA

'Pitanga' é um filme tão feliz quanto seu protagonista

É muito difícil sair de uma sessão de "Pitanga" sem um sorriso no rosto.

Ao longo de 113 minutos, o documentário nos mostra, com muito bom humor, quem é essa figura central do cinema nacional nos anos 1960 e 1970.

A picardia que permeia o filme se deve ao estado de espírito de seu perfilado. Antonio Pitanga está sempre muito feliz, rindo em cena, nos reencontros com amigos para repassar momentos da vida e da carreira.

Beto Brant e Camila Pitanga estruturam o doc sobre essas conversas, amarradas com trechos dos filmes e peças em que Pitanga trabalhou –foram mais de 60, desde a estreia no cinema em 1960, em "Bahia de Todos os Santos".

Essa costura evidencia um protagonista de quatro faces que se misturam o tempo todo: o ator, o negro, o amante e o pai de família.

O lado ator surge nas conversas sobre Glauber Rocha com Othon Bastos, que conta como o jeito explosivo, expansivo de Pitanga em cena influenciou seu Corisco em "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1964). E também na fala de Cacá Diegues ("contratei um ator e ganhei um irmão"), com quem Pitanga fez filmes como "Ganga Zumba" (1963) e "A Grande Cidade" (1966).

O filme mostra ainda como o ator foi voz ativa do movimento negro, influenciado pela luta por direitos civis nos EUA. Ele e Milton Gonçalves repassam a montagem de "Memória de um Sargento de Milícias", em 1966, só com negros no elenco. "Éramos acusados de racismo ao contrário", lembra Milton.

Os casos e enroscos de Pitanga respondem pelos momentos mais divertidos. Mesmo já setentão, o ator ainda arranca suspiros de ex-namoradas como Maria Bethânia, Ítala Nandi e Tamara Taxman.

"Sempre cheiroso, infernal, lindo", diz Bethânia, com olhos brilhando, para já receber um galanteio: "Você está tão bonita Que olhos são esses?!". "Nunca vi mais namorador que este rapaz", define a cantora.

O documentário começa e termina com o ator cercado pela família. Primeiro num almoço com irmãos, filhos, netos e sobrinhos; por fim na praia, enterrado pelas crianças. Essas cenas e os depoimentos dos filhos Camila e Rocco remontam como Pitanga foi pai e mãe dos dois desde cedo, após a separação de Vera Manhães, que passava por tratamento psiquiátrico e cedeu a guarda dos meninos.

Falta no filme um depoimento de Vera, que aparece sempre de forma indireta, citada pelos interlocutores do ex-marido.

Ressalva feita, "Pitanga" é um ótimo documentário, por levar à tela todo o carinho de um projeto familiar, de uma ação entre amigos, e por dimensionar bem a importância de Antonio Pitanga para a cultura brasileira.

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PITANGA
CLASSIFICAÇÃO: 12 ANOS
PRODUÇÃO: BRASIL, 2016
DIREÇÃO: BETO BRANT E CAMILA PITANGA
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