Folha de S. Paulo


Nova novela das 18h, 'Novo Mundo' busca empatia por realeza

Raquel Cunha/Divulgação
Dom Pedro 1º (Caio Castro), dom João (Léo Jaime), Carlota Joaquina (Débora Olivieri) e Miguel (Daniel Rangel)
Dom Pedro 1º (Caio Castro), dom João (Léo Jaime), Carlota Joaquina (Débora Olivieri) e Miguel (Daniel Rangel)

"Acreditamos que esse tratamento pouco honroso se dá muito por motivos políticos. Com a República houve uma tentativa de ridicularizar tudo o que foi da época do ImpérioAlessandro Marsoncoautor de 'Novo Mundo'

Carlota Joaquina e dom João 6º chegaram ao Brasil em 1808, trazendo a corte portuguesa que fugia de Napoleão.

A história deles foi contada em 1995 no filme de Carla Camurati, que mostrava a dupla como figuras intragáveis.

Em 2002, apareceram na minissérie "O Quinto dos Infernos" (Globo). O texto escrachado de Carlos Lombardi elevou à máxima potência as excentricidades da família e escancarou uma tendência nacional de fazer pouco caso da realeza de Portugal.

Na última quarta (22), a família real voltou à TV em "Novo Mundo", nova novela das 18h da Globo.

O horário, com público cativo de histórias de amor e comédias leves, pede uma representação menos burlesca.

Os autores Thereza Falcão e Alessandro Marson se debruçaram sobre livros de história para estruturar a novela, buscando serem fiéis aos fatos históricos, mas "sem pretensão de exibir uma obra didática", afirma Falcão.

As famigeradas caricaturas também foram descartadas; interessa a eles humanizar a realeza e despertar empatia no público. "Guardadas as devidas proporções, os conflitos existentes na família real poderiam se repetir em qualquer família, e isso é facilmente assimilado pelo público", diz a autora.

Ambos veem a representação debochada da realeza como uma construção histórica criada para renegá-la.

"Acreditamos que esse tratamento pouco honroso se dê muito por motivos políticos. Com a proclamação da República, houve uma tentativa de ridicularizar tudo o que foi da época do Império, inclusive, e principalmente, a família real. Pelo que estudamos, não havia nada de detestável neles", diz Marson.

O historiador Nuno Monteiro, coordenador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, não vê problema em representações sarcásticas. "A caricatura foi favorecida pelo estranhamento que as pessoas naturais dos trópicos tiveram com o comportamento dos europeus", pondera.

IMPACTO REAL

O historiador prefere dar atenção ao possível foco excessivo nos indivíduos, enquanto, segundo ele, sua verdadeira relevância tenha sido na dimensão política.

"É frequente que a ficção fique nas anedotas, mas houve um trabalho sério. Firmar uma corte no Brasil teve grande impacto social, com a explosão da utilização do espaço público, a formação da imprensa e de grupos políticos."

O público português, grande consumidor de teledramaturgia brasileira, também não problematiza a representação que fazemos dessas personalidades, afirma Monteiro.

"Dom Pedro liderou guerras vitoriosas em um período de grandes mudanças em Portugal, mas ele, injustamente, não tem tanta atenção. Há uma tendência no imaginário histórico dos portugueses de valorizar muito mais a Idade Média do que o século 19."


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