Folha de S. Paulo


crítica

Coros da Osesp são destaque na abertura da temporada 2017

Fábio Furtado/Divulgação
Marin Alsop rege a Osesp na temporada 2017
Marin Alsop rege a Osesp na temporada 2017

O uso que Beethoven (1770-1827) faz da "Ode à Alegria", do poeta Friedrich Schiller (1759-1805), em sua derradeira sinfonia, sela o vínculo do compositor alemão com a utopia iluminista de uma irmandade universal.

No canto da "Sinfonia n.9" sobressai uma corrente positiva que pretende abarcar milhões de anônimos: é um culto à humanidade, não à expressão individual do ego típica do romantismo. Beethoven conhecia o texto de Schiller (publicado em 1786) desde adolescente.

Esse espírito passou para o público presente no programa de abertura da temporada da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), realizados na semana passada. Foi clara, também, a proposta de reavaliação dessa mensagem solar no contexto algo sombrio dos tempos atuais.

Dirigido por Marin Alsop, o concerto abriu com "Gravitações" (2015), encomenda da Osesp ao compositor Jorge Grossmann, peruano naturalizado brasileiro.

É uma obra forte, com tônus contemporâneo latino. Metais dialogam com uma textura de flauta e celesta: seguem-se uníssonos esculpidos nas cordas, trompetes com surdinas sob um pedal agudo dos violinos e uma passagem marcante nos cellos.

VELOCIDADE

Em Beethoven, Alsop toma tempos sempre mais para o rápido. Pode-se sentir a falta de uma afetividade mais dolorida no primeiro movimento, mas a Osesp responde à altura da demanda: vozes internas claras, som compacto.

No "Scherzo" o tempo estava ótimo, mas a interpretação (na sexta-feira, dia 10/3) caiu um pouco no piloto automático. Já o início do "Adagio" foi primoroso: delicadeza e legato que antecipam Mahler, o próximo programa da orquestra.

O "Finale" foi ao mesmo tempo o momento mais bonito e o mais complicado, já que as vozes potentes dos solistas –Camila Titinger (em constante evolução), Luisa Francesconi, Paulo Mandarino e Leonardo Neiva– pareceram pressionadas pelo andamento acelerado.

Houve mesmo uma instabilidade de tempo entre solistas e orquestra na primeira entrada do quarteto vocal (mas logo corrigida). Texturas contrapontísticas não são favorecidas por andamentos rápidos, mas a proposta de Alsop tem a virtude de aceitar correr riscos.

A relação da orquestra com os coros, por outro lado, foi impecável. Havia minúcia, clareza, volume estrondoso e uma alegria genuína –tudo de que a "Ode à Alegria" precisa.

Seria prematuro avaliar, mas a presença de Valentina Peleggi como regente do Coro da Osesp parece promissora. Sua emocionante estreia no Dia da Mulher (na quarta, 8/3), que teve transmissão digital, segue disponível por 60 dias no site concertodigital.osesp.art.br.

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ABERTURA DA TEMPORADA 2017 da OSESP


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