Folha de S. Paulo


CRÍTICA

'Hiroshima Meu Amor' é a mais rica expressão do cinema

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Hiroshima meu amor [Japão, França, 2016], de Alain Resnais (Zeta Filmes). Gênero: animação. Elenco: Emmanuelle Riva, Eiji Okada, Bernard Fresson ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Emmanuelle Riva e Eiji Okada em 'Hiroshima Meu Amor', filme de Alain Resnais

O cinema contemporâneo tem transitado livremente entre a ficção e o documentário, ao ponto em que muitas vezes essas fronteiras são naturalmente abolidas.

Nos anos 1950, contudo, um diretor que soubesse mesclar essas duas instâncias tinha a capacidade de explodir algumas mentes. É precisamente o que faz Alain Resnais (1922-2015) com seu primeiro longa, o essencial "Hiroshima Meu Amor".

É um dos marcos inaugurais da nouvelle vague francesa, lançado no Festival de Cannes de 1959 junto com "Os Incompreendidos", de François Truffaut. Ambos fizeram eclodir o movimento, após magníficos antecedentes: os primeiros filmes de Claude Chabrol ("Nas Garras do Vício", 1958) e Agnès Varda ("La Pointe Courte", 1955)

O leitor deve estar se perguntando de que se trata obra tão deflagradora de uma modernidade cinematográfica. Convém responder que se trata da mesma coisa que envolve todos os grandes filmes: cinema em sua mais rica expressão.

Do erotismo dos corpos entrelaçados logo no início, o que o fez ter sido lançado em VHS no Brasil na coleção "Obras-primas do cinema erótico", aos encontros e desencontros do casal de protagonistas, tudo nele indica rigor e excelência artística.

Na trama, uma atriz francesa (Emmanuelle Riva) vai ao Japão para trabalhar em um filme pacifista sobre a bomba de Hiroshima e vive um romance com um arquiteto japonês casado (Eiji Okada).

Eles só aparecem de fato, como atores numa ficção, com mais de quinze minutos, após impressionantes imagens documentais. Antes eram só corpos sem rosto.

Imagens do passado e do presente assombram esses amantes: pessoas mutiladas física e moralmente, construções em ruínas, hospitais e museus, andanças pela cidade que já retoma seu curso após o trauma, o soldado alemão que foi o primeiro amor da atriz. Tudo num asfixiante preto e branco.

O horror testemunhado por uma câmera inquieta e inconformada, como no célebre "Noite e Neblina", documentário dirigido por Resnais em 1956 sobre campos de concentração.

Com roteiro (indicado ao Oscar) da escritora Marguerite Duras (1914-1996), que também foi diretora de excelentes filmes, como "India Song" (1974), Resnais apresenta um belíssimo e original drama histórico e ajuda a avançar alguns degraus o cinema moderno.

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HIROSHIMA MEU AMOR
(HIROSHIMA MON AMOUR)
DIREÇÃO Alain Resnais
COM Emmanuelle Riva, Eiji Okada
PRODUÇÃO França, 1959
Veja salas e horários de exibição.


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