Folha de S. Paulo


Coletivos produzem curtas, longas e webséries em Guarulhos

Reiko Ota/Divulgação
Bastidores da produção do filme 'Isto Não É um Cachimbo', dirigido por André Okuma
Bastidores da produção do filme 'Isto Não É um Cachimbo', dirigido por André Okuma

Em 2015, oito jovens que participavam de um projeto de formação em comunicação comunitária, no bairro dos Pimentas, periferia de Guarulhos, decidiram seguir pelos caminhos do cinema e criaram o coletivo Kinoférico.

Desde então, já produziram cinco filmes, incluindo uma animação, feita a mão em stop motion. Neste ano, lançam "Nas Escuras", sobre a história de uma mulher que perdeu a visão e tem o seu apartamento invadido por um casal de assaltantes.

Outro coletivo, o Polissemia, atuante desde 2011 no setor audiovisual, tem seis produções no catálogo -a sétima estreia neste ano.

O grupo, que também distribui filmes em Guarulhos, estima que, nos últimos seis anos, ao menos 70 produções foram feitas na cidade, a segunda maior do Estado de São Paulo. Os títulos têm gêneros variados; há animações, comédias, terror, curtas, longas e webséries.

Neste ano, ao menos nove títulos devem ser lançados, como "Isto Não É um Cachimbo", do diretor André Okuma, 34, cuja trama mistura ficção e realidade para contar a história de um carroceiro viciado em crack -e em arte.

"O foco principal é a nossa produção, com todas as questões e dificuldades que ela carrega. Também lutamos por políticas públicas e realizamos workshops para fomentar o audiovisual dentro da nossa própria comunidade", explica Nelson Simplício da Silva, do coletivo Kinoférico.

Gostar de Tarantino e admirar a nouvelle vague foi o pontapé inicial para três amigos formarem a Cia Bueiro Aberto. Hoje, o grupo tem dez integrantes, 25 filmes prontos, três em processo de finalização e um para ser rodado.

"Estamos também trabalhando em um fanzine chamado 'Gueto Metragem'. Uma publicação mensal que tratará das dificuldades, das possibilidades e dos nomes que surgem no cinema independente, assim como discutirá a história e conceitos do cinema em geral", conta Renato Queiroz, 26, da Bueiro Aberto.

O lançamento do "Gueto Metragem" acontecerá nas estreias dos novos filmes da companhia, com distribuição gratuita do fanzine.

Os eventos serão promovidos pelo Cineclube Incinerante, iniciativa do Polissemia que promove sessões gratuitas pela cidade.

O cineclube é importante para as produções locais. É através das exibições realizadas mensalmente que muitos cineastas guarulhenses têm a chance de apresentar as suas produções para um grande número de pessoas.

PRÊMIOS
Produções guarulhenses foram premiados em festivais nacionais de cinema. É o caso, por exemplo, do curta-metragem 'Voo da Borboleta' (2013), de André Okuma, que recebeu o prêmio de Melhor Processo Criativo na Mostra Oficinema de Amparo.

Já 'A História de Lia' (Tatúrula, 2011), de Rubens Mello, 52, apelidado "sucessor de Zé do Caixão", ganhou quatro prêmios em eventos de cinema: melhor montagem e fotografia no Corvo de Gesso, em 2012; melhor direção no 5º CineFantasy e na 1ª Mostra Espantomania, ambos em 2010.

Okuma e Mello estão entre os mais experientes cineastas de Guarulhos. Eles influenciam e apoiam os novos coletivos que saem pelas ruas com a câmera na mão e diversas histórias no roteiro.

Para Okuma, que dá cursos de formação em cinema na cidade, o cenário de produções ainda encontra dificuldades, em parte pela falta de políticas públicas para o audiovisual. "Cinema é caro, a gente não tem dinheiro.

É muito difícil, se não dizer impossível, fazer sozinho."

Apesar das dificuldades, há muita gente empenhada em desenvolver bons trabalhos em prol da cultura local.

Em 2011, o próprio José Mojica Marins, o Zé do Caixão, desembarcou na cidade para conferir o primeiro festival de cinema da cidade, a Guarulhos Fantástica, que teve três edições consecutivas realizadas por Rubens Mello.

"Eu a considero a primeira mostra de cinema internacional de Guarulhos, pois recebemos diversos filmes da Espanha e até EUA. Um dos meus projetos é trazê-la de volta este ano", diz Mello.

Em conjunto, os produtores lutam para ganhar visibilidade. No ano passado fundaram o Fagru (Fórum de Audiovisual de Guarulhos), com o objetivo de reivindicar colaboração da prefeitura na realização de obras e cobrar políticas públicas para o setor.

Entre as demandas está o uso do espaço da antiga sede da Câmara Municipal, que estava vazia; a antiga gestão havia prometido fazer dela a casa do cinema guarulhense.

Até agora, contudo, o local, que já vinha sendo preparado e equipado, não pôde ser ocupado pelos produtores pois teve seu controle passado à TV Câmara.

Já o projeto GRU Cine tem como objetivo reivindicar três eixos prioritários: a abertura de editais para incentivo de projetos, a exposição de conteúdos audiovisuais e uma escola de cinema, com cursos para iniciantes e pessoas que já atuam no audiovisual.


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