Folha de S. Paulo


Com Osesp, Karabtchevsky finaliza registro das sinfonias de Villa-Lobos

Um dos grandes mestres da música brasileira, Heitor Villa-Lobos (1887-1959) é, mais uma vez, o espectro homenageado nos primeiros concertos anuais da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), ainda em sua pré-temporada –a oficial inicia em março.

As apresentações, nesta quinta (23) e nesta sexta (24), como de costume a preços populares, põem fim a um projeto em que por seis anos fez o Centro de Documentação Musical da Osesp se debruçar sobre a obra do compositor.

Nas ocasiões, será executada e registrada a "Sinfonia nº 2 - Ascensão", a última que faltava para arrematar a primeira gravação integral brasileira das sinfonias compostas pelo maestro carioca –há uma alemã, feita nos anos 1990 pela Orquestra Sinfônica da Rádio de Stuttgart–, ainda antes de criar as famosas Bachianas Brasileiras.

Natália Kikuchi/Divulgação
Isaac Karabtchevsky à frente da orquestra em um dos concertos a preço popular de 2016
Isaac Karabtchevsky à frente da orquestra em um dos concertos a preço popular de 2016

A batuta fica a cargo de Isaac Karabtchevsky, à frente do projeto com Antonio Carlos Neves Pinto, coordenador do centro de documentação, e Arthur Nestrovski, diretor artístico da instituição.

"As sinfonias sempre foram uma espécie de patinho feio na obra orquestral de Villa-Lobos", diz Karabtchevsky, convidado por Nestrovski para participar do projeto após conduzir a cantata "Mandu-Çarará", de Villa, com a Osesp, em 2010.

"Por incrível que pareça, as 11 sinfonias [seriam 12, mas a 5ª foi perdida] daquele que é, por consenso, nosso maior compositor, permaneciam desconhecidas. Algumas muito provavelmente terão tido sua primeira audição em São Paulo ao longo desse processo", diz Nestrovski.

Ao resgatar a obra do compositor, perceberam que esbanjava erros de continuidade musical atribuídos ao uso do papel vegetal para as cópias das partituras. Entre os desacordos analisados, estavam, por exemplo, instrumentos que iniciavam uma melodia e, na virada de página, inesperadamente desapareciam.

RESTAURO

"Quando perguntavam para ele [Villa-Lobos] por que não revisava suas obras, ele dizia que o tempo que levaria para fazer a revisão de uma seria certamente suficiente para compor pelo menos outras cinco", diz Antonio Carlos.

Restaurar a obra de um compositor desse calibre não é um feito qualquer. E não se livra de polêmica, ainda mais após a morte de seu criador.

"Foi uma espécie de comunicação post-mortem", brinca Karabtchevsky. "Mexer em qualquer nota seria uma profanação, porém, todos os grandes compositores passaram por processos de revisão. É uma coisa normal que se examine, o que estamos prestando é um grande serviço à música brasileira", afirma.

"A importância desse registro, acompanhado de partituras revistas e corrigidas, não pode ser minimizada. É um verdadeiro legado dessa geração de músicos e musicólogos, assim como do maestro Karabtchevsky, predestinado intérprete dessas obras", afirma o diretor artístico da Osesp.

Tanto Nestrovski quanto Karabtchevsky questionam se seria possível, "num momento tão conturbado", em que corpos artísticos são dizimados e orquestras como a própria Osesp perdem significativas quantias de seus orçamentos, fazer um planejamento dessa magnitude.

"Villa-Lobos teria encarado com muito otimismo", afirma o maestro.

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ISAAC KARABTCHEVSKY REGE VILLA-LOBOS
QUANDO quinta (23) e sexta (24), às 19h30
ONDE Sala São Paulo, praça Júlio Prestes, 16, tel. (11) 3367-9500
QUANTO R$ 15


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