Dedos, cigarros, cabelos e penas saltam da superfície das telas. Uma das pinturas é um manto tricotado, que pende flácido da parede com uma mancha colorida de fundo. Na contramão dessas, outra obra tem traços que imitam fissuras, rasgos de mentira que abalam a visão de um mar um tanto intranquilo.
Numa mostra agora na galeria Fortes, D'Aloia & Gabriel, a artista Erika Verzutti, um dos nomes fortes da última Bienal de São Paulo e recém-escalada para a Bienal de Veneza, mostra uma tela sua com ovos que parecem mergulhados num pântano de tinta além de peças de novíssimos pintores que despontam no circuito.
Mais conhecida por suas esculturas em grande escala, de cisnes, jacas e outros bichos e vegetais, Verzutti vem aos poucos achatando sua obra em três dimensões até chegar à natureza plana da pintura.
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Tela de Erika Verzutti, que está na mostra 'A Terceira Mão', na galeria Fortes, D'Aloia & Gabriel |
Não por acaso, sua seleção para a mostra que batizou "A Terceira Mão" buscou pinturas um tanto inquietas, de gente que não se contenta em ficar só na superfície do quadro. "Tem esses encontros físicos com quem está olhando", diz ela. "É a sensação de que a imagem não está nem na parede nem no espaço."
Daí o tricô de Daniel Albuquerque, a enorme trança presa ao quadro de Gokula Stoffel, os dedos da tela do alemão Daniel Sinsel, as penas, pedras e espuma do americano Daniel Rios Rodriguez e o mar chacoalhado pela tempestade de cortes do italiano Francesco João Scavarda.
Este último, aliás, também exibe agora uma série de novos trabalhos ao lado de outro italiano, Alessandro Carano, na mostra "Donkey Man", em cartaz na Mendes Wood DM.
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Tela de Francesco João Scavarda, que está na mostra 'Donkey Man', na galeria Mendes Wood DM |
Na galeria dos Jardins, estão mais trabalhos que tratam do estado nervoso de uma espécie de metapintura, telas que falam delas mesmas.
"Esses trabalhos têm a ver com a materialidade da obra de arte", diz Scavarda. "Falam sobre como nasce e se forma o trabalho, com referências a um passado que está próximo, reconhecível."
Nesse sentido, um de seus quadros ali imita o display digital de um relógio, algo antiquado na era dos smartphones, mas fresco na memória. Outro quadro é uma paisagem montanhosa com remendos do que parece ser fita isolante, mas, tal qual as fissuras sobre o mar, tudo não passa de um trompe l'oeil.
Enquanto isso, Carano usa o mesmo tipo de fita -de verdade- em outras composições. "Uso materiais às margens das obras", afirma. "São coisas que os artistas descartam, mas seus gestos ficam."
A TERCEIRA MÃO
QUANDO de seg. a qui., 10h às 19h; sex., 10h às 18h; até 25/3
ONDE Fortes, D'Aloia & Gabriel, r. Fradique Coutinho, 1.500, tel. (11) 3032-7066
QUANTO grátis
DONKEY MAN
QUANDO de seg. a sáb., 10h às 19h; até 25/3
ONDE Mendes Wood DM, r. da Consolação, 3.358, tel. (11) 3081-1735
QUANTO grátis