Folha de S. Paulo


Montagem: Indicados ao Oscar infantilizam espectador

Montagem é comparável ao árbitro de futebol: quando aparece não é por um bom motivo. A mão pesada marca os indicados na categoria de melhor montagem. Excessos expõem incapacidade de hierarquizar cenas. Há muita explicação, redundância e literalidade, elementos que infantilizam o espectador. "Moonlight" distoa, com pouco mérito próprio. Mas o careta "La La Land" deve ganhar.

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O atores Mahershala Ali e Alex R. Hibbert em 'Moonlight', melhor montagem entre os indicados
O atores Mahershala Ali e Alex R. Hibbert em 'Moonlight', melhor montagem entre os indicados

"Moonlight: Sob a Luz do Luar"
A melhor montagem entre os indicados deste ano dá tempo ao desenvolvimento dos personagens. Dividido em três atos, o longa seleciona momentos pouco espetaculares mas importantes na formação de Chiron, garoto negro, pobre e homossexual. Dispõe de cenas sem ação, diálogo ou explicações. Há pouca gordura ou ponta solta. O ritmo enxuto e contemplativo, a princípio contraditórios, perde força na parte final. A pressa atropela o clímax, mas não põe a perder o trabalho de Joi McMillon, a primeira negra indicada nesta categoria.

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Amy Adams em 'A Chegada', filme que menospreza o espectador
Amy Adams em 'A Chegada', filme que menospreza o espectador

"A Chegada"
O longa mostra a que veio em seus primeiros minutos, com cadência crescente ditada pelo som. Toque de celular, conversas, sirene, avião. A jornada linguística se torna mais urgente, com cortes rápidos e mudança de planos. O ambiente tenso se esvazia ao alternar com um arco piegas. Tempos são mesclados para justificar ações de personagens, o que soa a falta de confiança com roteiro e atores. Literalidade e repetição menosprezam o espectador.

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Cena de 'La La Land - Cantando Estações', indicado em 13 categorias
Cena de 'La La Land - Cantando Estações', indicado em 13 categorias

"La La Land: Cantando Estações"
A música é novamente o fio condutor de um filme de Damien Chazelle ("Whiplash"). Os cortes à moda do objeto de culto (o gênero musical) acompanham a batida. E passam desapercebidos, algo elogiável. Flashback sentimental expõe fragilidade da construção da trama. As possibilidades perdidas a cada decisão deveriam permear as cenas, e não serem expostas via deus ex-machina.

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Mark Rogers/Summit via AP
Andrew Garfield em cena de 'Até o Último Homem'´, que concorre a seis Oscar
Andrew Garfield em cena de 'Até o Último Homem'´, que concorre a seis Oscar

"Até o Último Homem"
Pior filme da lista. A montagem poderia começar a ser elogiada se jogasse metade do material no lixo. O arco moralista da defesa de um ponto de vista num ambiente autoritário é soporífero. Se, com boa vontade, considerarmos que as cenas de guerra foram bem filmadas, torna-se difícil encontrar mérito nisso. Há avanço estético em relação a qualquer filme premiado do gênero? O filme é dividido em dois: um péssimo e o outro apenas razoável. Não dá para montar algo bom com material tão pobre.

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Jeff Bridges em 'A Qualquer Custo', filme que desfila clichês
Jeff Bridges em 'A Qualquer Custo', filme que desfila clichês

"A Qualquer Custo"
O longa desfila clichês: irmãos no crime, policial em missão derradeira, amizade improvável, família opressora. A dupla Nick Cave e Warren Ellis é a mesma que assina a trilha de "O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford", comparação que diminui o indicado deste ano. O ritmo alterna a tensão em assaltos e fugas, pontuada por cortes certeiros, com momentos reflexivos piegas e redundantes. Há muitos olhares para o horizonte, pouco silêncio, desarmonia entre ação e drama. De repente alguém se dá conta que a história precisa ser contada e tudo volta a correr. Confuso.

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Veja a lista das outras categorias comentadas por profissionais, críticos e colaboradores da Folha.

Melhor filme, por Inácio Araujo
Melhor diretor, por Sergio Alpendre
Melhor filme estrangeiro, por Cássio Starling Carlos
Melhor animação, por Sandro Macedo
Melhor documentário, por Aline Pellegrini
Melhor documentário de curta-metragem, por Lívia Sampaio
Melhor roteiro original, por Francesca Angiolillo
Melhor roteiro adaptado, por Francesca Angiolillo
Melhor ator, por Guilherme Genestreti
Melhor atriz, por Teté Ribeiro
Melhor ator coadjuvante, por Guilherme Genestreti
Melhor atriz coadjuvante, por Teté Ribeiro
Melhor fotografia, por Daigo Oliva
Melhor direção de arte, por Guilherme Genestreti
Melhor trilha sonora, por Alex Kidd
Melhor canção original, por Giuliana Vallone
Melhor figurino, por Pedro Diniz
Melhor maquiagem e penteado, por Anna Virginia Balloussier


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