Folha de S. Paulo


Líder do Nirvana, Kurt Cobain completaria 50 anos nesta segunda

Se não tivesse cometido suicídio, em 5 de abril de 1994, aos 27 anos, Kurt Cobain estaria completando meio século de vida. Nasceu em 20 de fevereiro de 1967, em Aberdeen, uma pequena cidade no Estado de Washington, noroeste dos Estados Unidos.

É impressionante lembrar que Cobain teve uma carreira artística de apenas sete anos. Ele fundou o Nirvana no início de 1987, mas a banda só estourou no fim de 1991, com o lançamento do álbum "Nevermind". Aos olhos do grande público, Kurt Cobain nasceu, ficou famoso e morreu em pouco mais de três anos.

Foi um compositor fora de série, que capturou, em letras misteriosas e crípticas, as angústias e incertezas de sua geração. Em uma de suas letras mais autodepreciativas (e não foram poucas), a de "Serve the Servants", do álbum "In Utero", Cobain disse: "A angústia adolescente rendeu uma boa grana/ Agora estou entediado e velho".

Como alguém de 26 anos pode se dizer entediado e velho? Talvez pelas mesmas razões que levaram Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison (The Doors), num intervalo de 11 meses –entre setembro de 1970 e julho de 1971– a morrer por abusos variados, todos com a mesma idade de Cobain, 27 anos.

André Barcinski/Folhapress
Kurt Cobain em 1991, no primeiro show em Seattle após o lançamento de 'Nevermind
Kurt Cobain em 1991, no primeiro show em Seattle após o lançamento de 'Nevermind'

CLUBE DOS 27

Muito se falou sobre o "Clube dos 27", a sombria confraria dos músicos que morreram com essa idade. Os mais famosos, além dos acima, são Brian Jones (Rolling Stones, morto em 1969) e Amy Winehouse (em 2011).

Mas há uma grande quantidade de membros menos conhecidos: Rudy Lewis, cantor do grupo The Drifters, morto por overdose em 1964; Alan Wilson, cantor do grupo Canned Heat, vítima de overdose de barbitúricos –possivelmente suicídio– em 1970; Ron "Pigpen", do Grateful Dead, alcoolismo, 1973; Dave Alexander, baixista dos Stooges, edema pulmonar, 1975; Pete Ham, líder do Badfinger, suicídio, 1975; Chris Bell, do Big Star, acidente de carro, 1978; D. Boon, do Minutemen, acidente de carro, 1985; Pete De Freitas, baterista do Echo and the Bunnymen, acidente de moto, 1989; Kristen Pfaff, baixista do grupo Hole (liderado pela viúva de Cobain, Courtney Love), overdose de heroína, 1994; e Richey Edwards, guitarrista do Manic Street Preachers, desaparecido em 1995. A lista é imensa.

E AGORA?

É um exercício divertido, embora meio mórbido, tentar adivinhar o que esses artistas teriam feito de suas carreiras, caso não houvessem sucumbido tão cedo. Vale lembrar que todos os citados acima são mais novos, por exemplo, do que Bob Dylan, e poderiam estar em plena atividade.

Quanto a Cobain, logo após o lançamento de "Nevermind", ele já reclamava da sonoridade do álbum, que achava polido e comercial demais. Tanto que chamou Steve Albini, um produtor e músico conhecido pela agressividade e aspereza de suas produções, para gravar o disco seguinte, "In Utero".

Quem ouve os três discos de estúdio do Nirvana –"Bleach" (1989), "Nevermind" (1991) e "In Utero" (1993)– percebe também que as letras de Cobain foram se tornando cada vez mais "objetivas" e menos misteriosas. Era mais fácil perceber os temas das canções –depressão, as pressões da fama, as dificuldades do relacionamento com a esposa, Courtney Love, etc.

Àquela época, Cobain expandia seus horizontes musicais. Nos últimos dois anos de vida, ele começou a se interessar mais pelo blues antigo e fez questão de gravar "Where Did You Sleep Last Night?", uma canção tradicional norte-americana cantada pelo pioneiro do blues e do folk, Lead Belly (1889-1949), no álbum acústico "MTV Unplugged in New York", gravado em setembro de 1993 e lançado somente após a morte de Cobain.

Como estaria o Kurt Cobain cinquentão? Fazendo shows acústicos em uma celebrada carreira solo, enquanto rejeita os convites milionários para reformar o Nirvana, a exemplo do que faz Robert Plant, ex-Led Zeppelin? Ou teria continuado bravamente com o Nirvana, como faz seu contemporâneo Eddie Vedder com o Pearl Jam? Se eu tivesse de apostar, chutaria a primeira opção.

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5 MÚSICAS IMPERDÍVEIS
"About a Girl"
Kurt copia o pop dos Beatles nessa ode à então namorada, Tracy Marander.

"Negative Creep"
Claramente inspirada em uma música dos contemporâneos do Mudhoney, é uma grande canção punk

"Come as You Are"
Chupada de "Eighties", do Killing Joke, tem um refrão absolutamente matador

"Lithium"
Cobain acha "amigos dentro da cabeça" nessa canção melancólica sobre insanidade.

"Heart-Shaped Box"
Letra brutal sobre amor e ódio na relação com Courney Love: "Eu poderia comer o seu câncer"

Ouça no deezer

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10 MOMENTOS
A carreira de Kurt Cobain, da fundação do Nirvana à chegada ao Hall da Fama

1992 - Casamento
De pijama, Kurt Cobain se casa com Courtney Love no Havaí, dando início a uma tumultuada relação. Meses depois, nasce sua filha, Frances Bean Cobain

1992 - "Incesticide"
A coleção de raridades e lados B conquistou disco de ouro meses depois

1993 - "In Utero"
O último álbum de estúdio da banda, tentativa de se desvencilhar dos hits mais comerciais de "Nevermind", vendeu 15 milhões de cópias no mundo

1993 - Shows no Brasil
Fazem no Hollywood Rock, em São Paulo, e no Sambódromo do Rio aqueles que ficaram conhecidos por aqui como seus piores shows

1993 - "MTV Unplugged in New York"
O famoso acústico da MTV vai ao ar em dezembro, mas só sairia em disco após a morte do cantor, vencendo um Grammy em 1996

1987 - Criação do Nirvana
Kurt Cobain, Krist Novoselic e Aaron Burckhard formam a banda na cidade de Aberdeen, em Washington

1991 - "Nevermind"
Já com Dave Grohl, a banda lança "Nevermind". Disco de ouro em menos de um mês, vendeu ao menos 30 milhões de cópias

1994 - Morte
Em 5 de abril, o corpo de Cobain é encontrado por um eletricista em sua casa em Los Angeles. Teorias de assassinato rondaram a morte, considerada suicídio

2014 - Hall da Fama
O Nirvana entra para o Hall da Fama do Rock; tributo reúne Krist Novoselic, Dave Grohl, Courtney Love, Joan Jett e Kim Gordon

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Filme exibe relações tumultuadas de Cobain com família

Há muitas obras sobre Kurt Cobain, mas a que melhor explica sua personalidade é o filme "Montage of Heck", que detalha seus problemas nas relações familiares.

Assistir a um documentário sobre a vida de um suicida é doloroso, porque são muitas as evidências de como a história vai terminar.

Netflix, 14 anos


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