Folha de S. Paulo


Crítica

Longa é tão ralo que ator sua para talvez merecer indicação

Divulgação
Cena do filme
Dev Patel em cena do filme "Lion - Uma Jornada para Casa"

A julgar apenas pela qualidade do filme, as seis indicações ao Oscar 2017 de "Lion - Uma Jornada para Casa" soam como um exagero.

A média dos indicados ao prêmio principal neste ano está longe de ser brilhante, mas tem certa consistência. "Lion" se posiciona, sem dúvida, entre os mais frágeis deles.

Por outro lado, as indicações fazem todo sentido quando se nota que "Lion" é "um típico filme de Oscar".

Baseado em história real de superação pessoal? Sim. Tema sentimental, mas socialmente relevante? Sim. Paisagem "exótica"? Claro. Sex symbol desglamorizada (Nicole Kidman) com monólogo lacrimoso? Também.

A sinopse oficial nos conta que Saroo, 5, dorme em um trem e se perde de sua família. Sobrevive sozinho até ser adotado por um casal australiano. "Vinte e cinco anos depois, munido apenas de um punhado de lembranças e uma tecnologia revolucionária, conhecida como Google Earth, ele vai ao encontro de sua história perdida."

Deixemos de lado o fato de uma grande corporação ser elogiada em uma sinopse –e a hipótese cínica de se tratar de um longo "merchan". Melhor nos concentrarmos no produto (o filme, no caso).

"Lion" se divide em duas metades. A primeira mostra as desventuras do pequeno Saroo (Sunny Pawar, melhor ator do filme) em Calcutá.

A lembrança imediata é "Quem Quer Ser um Milionário?", ganhador do Oscar em 2009. A impressão se reforça quando entra em cena Patel, protagonista dos dois filmes.

Embora o tratamento do australiano Garth Davis seja menos espetaculoso que o do inglês Danny Boyle, o retrato que se pinta da Índia não é muito distinto em seu etnocentrismo: um lugar sujo e selvagem, habitado por pessoas pouco civilizadas.

E essa é a melhor parte. A segunda, por contraste, se passa em uma idílica Austrália, onde não há personagens mal-intencionados (salvo o irmão de Saroo, outro indiano adotado, portanto com "defeito de fabricação").

A transformação do protagonista –de jovem adaptado a homem atormentado– é abrupta, mal desenvolvida pelo filme. O mesmo pode ser dito sobre sua relação com a namorada (Rooney Mara).

Já a busca por sua família, por se dar toda em ambiente virtual, é tediosa. Assim, temos uma segunda metade em que Patel se divide entre olhar para a tela do computador, fazendo cara de frustrado, e para o vazio, fazendo cara de melancólico.

Uma Longa Jornada Para Casa
Saroo Brierley
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Não é uma grande interpretação, mas tal esforço com material tão ralo pode explicar a indicação ao Oscar de coadjuvante. As outras cinco são mais difíceis de justificar.

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LION - UMA JORNADA PARA CASA
QUANDO: ESTREIA NESTA QUINTA (16)
ELENCO: SUNNY PAWAR, DEV PATEL, NICOLE KIDMAN
PRODUÇÃO: EUA/AUSTRÁLIA/REINO UNIDO, 2016, 12 ANOS
DIREÇÃO: GARTH DAVIS


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