Folha de S. Paulo


Roteiro original: Nostalgia dos 'velhos tempos' permeia categoria

Neste ano, a disputa de melhor roteiro original parece reconhecer certa nostalgia dos "bons velhos tempos" do cinema, seja na temática, seja na forma dos filmes concorrentes.

Leia a seguir comentários sobre cada um dos filmes concorrentes na categoria.

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A qualquer custo [Hell or High Water, Estados Unidos, 2015], de David Mackenzie (California Filmes). Gênero: drama. Elenco: Chris Pine, Ben Foster, Jeff Bridges. Classificação: verifique em www.justica.gov.br/seus-direitos/classificacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
'A Qualquer Custo' disputa quatro Oscar, entre eles roteiro e ator coadjuvante, para Jeff Bridges (à dir.)

"A Qualquer Custo"
O roteiro de Taylor Sheridan para o filme de David Mackenzie se vale de uma estrutura de western à moda antiga para abordar um tema atual – os efeitos da crise de 2008, ainda notáveis nos EUA. O filme tem um quê de anos outra época, como já ressaltou André Barcinski em sua crítica e prende o interesse como um bom thriller clássico. A necessidade de explicar o background que leva os irmãos Toby e Tanner Howard a assaltarem bancos leva a alguns diálogos de embocadura forçada no começo, mas o filme evolui bem.

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Ryan Gosling e Emma Stone em cena de 'La La Land
Ryan Gosling e Emma Stone em cena de 'La La Land', que tem 14 indicações ao Oscar

"La La Land - Cantando Estações"
O musical de Damien Chazelle prova que roteiro sozinho não faz um filme. A história de "La La Land", escrita pelo próprio Chazelle, é bastante banal, e a graça maior está nas referências a clássicos do gênero que ele procura emular. O final faz uma homenagem escancarada (e agridoce) a produções como as protagonizadas por Leslie Caron que animavam a "Sessão da Tarde" e talvez seja o "twist" mais interessante do roteiro, que pode levar a estatueta graças ao encanto geral que o filme, pela nostalgia escapista, promove.

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Legenda:This image released by A24 Films shows Colin Farrell in a scene from,
Colin Farrell é o protagonista de 'O Lagosta', de Yorgos Lanthimos, também coautor do roteiro original

"O Lagosta"
O filme de Yorgos Lanthimos, escrito por ele e por Efthimis Filippou, esteve no Festival de Cannes no ano passado e é o representante de "europudding" entre os concorrentes ao Oscar deste ano – chega a ter uma cena com atrizes francesas falando em seu idioma sem motivo algum além de justificar o investimento de seu país entre os cinco que financiaram o longa. Talvez o fascínio do Velho Mundo explique por que esse roteiro de distopia meio previsível –oh, o horror de um mundo em que as relações amorosas são decididas de forma autoritária e sem espaço para as diferenças!– concorre à estatueta. Ou talvez seja o ar pseudoliterário, com sua narração supostamente desapaixonada das desventuras do protagonista David (Colin Farrell).

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This image released by Roadside Attractions and Amazon Studios shows Michelle Williams, left, and Casey Affleck in a scene from
Michelle Williams e Casey Affleck em cena do drama 'Manchester à Beira-Mar', indicado a seis Oscar

"Manchester à Beira-Mar"
Eis aqui outro filme à moda antiga, na melhor acepção possível. Kenneth Lonergan escreve e dirige esse pungente drama familiar que faz pensar, de novo, nos anos 1980, pródigo em histórias como esta, que, se obriga o espectador a ter um lenço à mão, não chega nunca a apelar para o sentimentalismo fácil. A contenção é a chave de todo o filme, e agradece-se a forma inteligente e fluida com que os fantasmas do passado são introduzidos e revelados na trama.

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Merrick Morton/Divulgação
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Annette Bening é Dorothea, mãe do jovem Jamie (Lucas Zade Zumann) em 'Mulheres do Século 20'

"Mulheres do Século 20"
Mike Mills concebeu uma pequena joia. Ao contar a história de Dorothea (Annette Bening), Abbie (Greta Gerwig) e Julie (Elle Fanning), que convivem em Santa Barbara em 1979, unidas em torno do filho da mais velha delas, o adolescente Jamie (Lucas Jade Zumann), consegue tratar da dimensão íntima do conflito de gerações ao mesmo tempo que tece um panorama cultural da época – o feminismo, a explosão do consumismo, o punk. Os pequenos dramas cotidianos se entrelaçam às questões históricas de então e, com isso, o filme consegue nos lembrar de que o mundo já girava muito rápido no século passado. Mereceria o Oscar, mas não vai levar – veja-o quando estrear no Brasil, no mês que vem.

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Veja a lista das outras categorias comentadas por profissionais, críticos e colaboradores da Folha.

Melhor filme, por Inácio Araujo
Melhor diretor, por Sergio Alpendre
Melhor filme estrangeiro, por Cássio Starling Carlos
Melhor animação, por Sandro Macedo
Melhor documentário, por Aline Pellegrini
Melhor documentário de curta-metragem, por Lívia Sampaio
Melhor roteiro adaptado, por Francesca Angiolillo
Melhor ator, por Guilherme Genestreti
Melhor atriz, por Teté Ribeiro
Melhor ator coadjuvante, por Guilherme Genestreti
Melhor atriz coadjuvante, por Teté Ribeiro
Melhor fotografia, por Daigo Oliva
Melhor montagem, por Matheus Magenta
Melhor direção de arte, por Guilherme Genestreti
Melhor trilha sonora, por Alex Kidd
Melhor canção original, por Giuliana Vallone
Melhor figurino, por Pedro Diniz
Melhor maquiagem e penteado, por Anna Virginia Balloussier


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