Folha de S. Paulo


Crítica

'A Cidade Onde Envelheço' flagra nuances de amizade

Divulgação
As atrizes Francisca Manuel (à esq.) e Elizabete Francisca
As atrizes Francisca Manuel (à esq.) e Elizabete Francisca

Francisca (Francisca Manuel), jovem portuguesa que mora no centro de Belo Horizonte, vai a um sebo procurar um disco de Caetano Veloso. O vendedor, ciente de que ela gosta de um clima setentista e melancólico, mostra o raro compacto com "Soluços", de Jards Macalé, e a canção passa a servir de trilha nos dois minutos seguintes.

Esse é um dos momentos mais marcantes de "A Cidade Onde Envelheço", de Marília Rocha. Ele nos lembra do interesse dos portugueses pela música e pela musicalidade brasileiras e fortalece o tom poético-amoroso que permeia todo o filme.

Francisca recebe em sua casa a compatriota Teresa (Elizabete Francisca). Enquanto a anfitriã tem saudades da luz mágica de Lisboa, a hóspede não sabe ao certo quanto tempo pretende ficar.

O horizonte pode ser mesmo belo, mas a distância das águas do Tejo deixam Francisca num estado de profunda melancolia, apesar dos amigos que fez na cidade.

Por mais que tente facilitar a ambientação da amiga e que a ideia de envelhecer no exílio não pareça de todo ruim, Francisca está aberta às aventuras que a vida pode oferecer.

Com uma estrutura livre, provavelmente inspirada no cinema de John Cassavetes, o longa nos mostra como a amizade se fortalece, apesar de leves desentendimentos.

Vinda de três instigantes filmes-ensaios ("Aboio", "Acácio" e "A Falta que Me Faz"), Marília Rocha revela sensibilidade para flagrar nuances dessa amizade e lidar com os silêncios e os olhares que revelam dúvidas e receios.

"A Cidade Onde Envelheço" é um filme simples, singelo, sem estrutura claramente definida. Mas é sempre agradável acompanhar as jovens na festas e mesas de sinuca.

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A Cidade Onde Envelheço
QUANDO estreia nesta quinta (9)
ELENCO Elizabete Francisca, Francisca Manuel, Jonnata Doll
PRODUÇÃO Brasil, 2016, 12 anos
DIREÇÃO Marília Rocha


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