Folha de S. Paulo


crítica

Festival de música eletrônica Dekmantel faz boa estreia em SP

Desde que o espanhol Sónar desembarcou com seu nome oficial em São Paulo (antes era Nokia Trends), em 2012 (com Kraftwerk), não havia um festival classudo de música eletrônica acontecendo no país num lugar legal.

No sábado (4) e domingo (5), o holandês Dekmantel mostrou que dá para fazer uma programação diversificada e criativa, que agradasse estilos diferentes de público, apresentasse gente nova tocando e, além de atrações internacionais, agregasse a plural cena noturna paulistana com suas diversas festas de rua que surgiram nos últimos anos (Selvagem, ODD, Mamba Negra etc.).

O público que passou pelo Jockey Club em SP nos dois dias de evento (a organização estimava 5.000 pessoas, mas até a conclusão desta edição, não confirmou o número exato) assistiu apresentações que foram do multi-instrumentista brasileiro Hermeto Pascoal ao veterano DJ e produtor americano de tecno Jeff Mills.

Ariel Martini/Divulgação
Nicolas Jaar se apresenta no Dekmantel, em São Paulo
Nicolas Jaar se apresenta no Dekmantel, em São Paulo

Este foi a atração principal do sábado (4), e mostrou porque, aos 53, ainda é considerado um dos maiores nomes da música eletrônica mundial. Uma parte do público não acostumada à "technera" pesada de Mills deixou o palco rumo a um som mais leve. Encontrou abrigo, por exemplo, na pistinha de dança que se tornou o palco Gop Tun/Boiler Room, com o holandês Tom Trago tocando.

Antes de Trago, dois grupos brasileiros fizeram ótimas apresentações: o veterano Azymuth e o paulistano Bixiga 70. Este animou o público logo que a chuva parou.

Mesmo com água caindo e lama, a organização do Dekmantel foi boa. A cenografia, assinada por Marko Brajovic, Guto Requena, Felipe Morozini e SuperLimão Studio foi um dos destaques, com espaço de convívio (praça de alimentação com food trucks, mesas coletivas e espreguiçadeiras para as pessoas descansarem).
Havia boa quantidade de bares e banheiros químicos limpos. O único problema era que o festival te obrigava a gastar R$ 5 por um cartão de consumo recarregável. O valor era devolvido para quem tivesse paciência em pegar fila no final.

No domingo (5), com o tempo bom, o palco UFO era o mais disputado no meio da tarde. Apesar de apertado, a escalação do espaço estava imperdível. O mineiro Zopelar optou por um set bastante percussivo e esquentou a pista para Joey Anderson que fez um dos melhores sets do festival.

O DJ americano tocou por mais de duas horas, caprichou nos timbres alienígenas e não dispensou hits. Foi de Bowie a Michael Jackson e encerrou com o hino "house" "Can You Feel It", de Mr. Fingers, que aumentou a temperatura da pista que derretia com o sol das 17h.

No mesmo horário, a alemã Lena Willikens lotou o palco "Selectors" com seu não-estilo definido: mistura house, disco sintético, um pouco de prototechno (afinal, Kraftwerk é uma das suas influências).
Já no fim da tarde, o "live" bastante melódico do holandês Fatima Yamaha apostou em camadas de sintetizadores mais relaxantes. Serviu para tranquilizar a pista que esperava ansiosamente por Nicolas Jaar, a principal atração da noite.

Antes de Jaar fechar a noite, o público ganhou outro presente: uma performance excelente do espanhol John Talabot, que botou todo mundo para dançar com sua mistura de techno e house. Se o festival terminasse ali, já estaria perfeito. Mas ainda tinha Nicolas Jaar.

O americano de 27 anos, de ascendência chilena -ele é filho do artista Alfredo Jaar, que deixou o Chile nos anos 90-, fez um set memorável, tocando teclado, sax e abusando de sintetizadores. Tocou vários de seus hits como "No" e "Space Is Only Noise If You Can See".

Mas nem tudo podia ser perfeito. Atendendo a um pedido de última hora da subprefeitura de Pinheiros, que queria que o festival terminasse mais cedo, já que o Jockey fica numa área residencial, a organização antecipou o término do evento para as 22h30, em vez de 23h30.

O resultado foi frustrante. Tanto no sábado quanto no domingo, quando as apresentações de Mills e Jaar estavam no auge, foram interrompidas bruscamente, lembrando aquelas festas de adolescência quando o adulto responsável tirava o som da tomada.

DEKMANTEL SÃO PAULO


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