Neil LaBute cria personagens tão repugnantes quanto reais. Em suas peças, o dramaturgo americano esmiúça as relações e a crueldade humanas, tudo com um certo sarcasmo e humor negro.
Não faz diferente em "O Bosque Soturno", texto de 2011 que ganha montagem brasileira a partir desta quinta (2), em São Paulo, com direção de Otávio Martins.
Aqui, fala dos irmãos Betty (Guta Ruiz) e Bobby (Pedro Bosnich), que se reúnem para esvaziar uma cabana que será alugada para novos inquilinos. Presos ali por uma chuva, veem surgir as rusgas do relacionamento e a distância entre seus temperamentos: ela, uma intelectual liberal; ele, um marceneiro com visões um tanto retrógradas.
"Existe um princípio misógino do irmão para a irmã. Ela é muito liberal para ele. E LaBute escancara um tipo que a gente conhece, do homem que se acha acima da figura da mulher", diz Martins. E o faz com "um humor calcado no constrangimento, no riso nervoso", continua o diretor.
A relação vai se revelando pesada –percebe-se a grande obsessão de Bobby pela irmã– e vêm à tona traumas e segredos familiares.
Na montagem brasileira, o cenário é todo composto de caixas de feira, que fazem as vezes de móveis e paredes e representam não só a mudança que os personagens fazem na cabana, mas também "tudo aquilo que fica guardado" na relação, afirma Martins.
A iluminação, assim como os segredos dos irmãos, nunca é clara, e revela aos poucos os elementos de cena.
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O BOSQUE SOTURNO
QUANDO qui. e sex., às 21h; até 24/3
ONDE Teatro Eva Herz - Livraria Cultura Conjunto Nacional, av. Paulista, 2.073, tel. (11) 3170-4059
QUANTO R$ 40
CLASSIFICAÇÃO 16 anos