Não espanta que o Museu do Amanhã tenha chegado ao Olimpo da bilheteria. Uma espécie de bromélia esbranquiçada fritando no calor do Rio, o prédio do "starchitect" espanhol Santiago Calatrava já nasceu sob os holofotes na condição de joia mais vistosa do projeto de renovação urbana da zona portuária carioca e ganhou fôlego ímpar com o maior evento esportivo do mundo.
Durante a Olimpíada, a esplanada em torno dele e seu dramático espelho d'água viraram cenários perfeitos para selfies de fãs e atletas, casando com a lógica de espetáculo e entretenimento por trás do chamado Porto Maravilha.
Essa estratégia não é nova. Desde a década de 1990, quando Frank Gehry inaugurou o emaranhado metálico que abriga a filial do Guggenheim em Bilbao, na Espanha, museus se tornam pedra de toque de processos que urbanistas mais ingênuos chamam de "revitalização", como se tecidos urbanos estivessem condenados a necrosar sem esses prédios espalhafatosos.
Não estão, mas acabam virando do avesso, para a felicidade da especulação imobiliária, quando uma vizinhança ganha algo do tipo.
Três anos atrás, o mesmo Gehry fez uma espécie de caravela de vidro para a Fundação Louis Vuitton num bairro mais pacato de Paris, que há quatro décadas viu seu coração bater mais forte com os tubos de vidro do Pompidou de Renzo Piano e Richard Rogers –o espanto inicial agora se traduz em filas na porta.
Não é de todo ruim, mas museus ancorados no espetáculo pouco acrescentam à cultura quando se preocupam mais em aparecer no Instagram do que em construir acervos e mostras relevantes.
Em termos de conteúdo, o Museu do Amanhã não pode ser comparado a instituições como o Guggenheim e o Pompidou, mas seu sucesso diante dos números mais modestos de seu vizinho, o Museu de Arte do Rio, revela o poder de fogo do show pelo show.
No afã de bater metas de público, muitos museus se deixam seduzir pela facilidade de uma programação blockbuster, caso do Museu da Imagem e do Som paulistano –suas mostras com temas de Bowie a Silvio Santos encantam por exibir aquilo que o público já conhece, não pelo papel de formação do olhar que deve estar no cerne de todo museu.
Mas uma torre de marfim que pouco dialoga com o público também não ajuda. O Museu de Arte Contemporânea da USP, alheio ao que se passa ao seu redor na cena artística da cidade, nunca abraçou o populacho, mas suas galerias vazias preocupam.
Enquanto o Museu do Amanhã continua bombando, a crise econômica que paralisa o Brasil e ainda causa estragos no resto do mundo parece anunciar agora um retorno à ordem, um futuro de aposentadoria para os "starchitects" –o MIS do Rio arrisca virar ruína antes da inauguração, por exemplo– e de novas exigências para diretores de museus, que terão de fazer da arte e da ciência seu verdadeiro show.