Folha de S. Paulo


análise

Apesar de 'La La Land', não há favorito absoluto ao Oscar

Para quem gosta de competições artísticas, este pode ser um ano interessante. Não é um desses em que um só filme desponta como favorito absoluto.

"La La Land" é, sim, um nome muito forte. Concorre ao Oscar de melhor filme, direção, atriz, ator, roteiro original e a mais outros oito prêmios.

Mas "Manchester à Beira-Mar" está na parada, concorrendo a melhor filme, direção, ator, roteiro adaptado. Nessa lista falta apenas uma atriz, o que é compensado pela presença de Michelle Williams na categoria de coadjuvantes femininas.

Uma particularidade é que os dois em princípio grandes rivais ao prêmio de melhor direção neste ano, Damien Chazelle, de "La La Land", e Kenneth Lonergan, de "Manchester", assinam os próprios roteiros.

Existe, porém, um terceiro homem nessa história: Barry Jenkins, que também assina o roteiro do filme que dirige ("Moonlight"), embora roteiro adaptado. Não seria atraente a eleição de um cineasta negro num ano em que o primeiro presidente negro deixa o poder e o cede a um branco odiado em Hollywood?

Por falar em negros, Denzel Washington volta a concorrer como melhor ator por "Cercas". Denzel é desses que podia ganhar ano sim, ano não e ninguém diria que houve injustiça.

O mesmo caso, entre as atrizes, é o de Maryl Streep, que goza de uma espécie de cadeira cativa entre as candidatas a melhor atriz do ano. Se eu não me perdi na contagem, esta é sua 20ª indicação a melhor atriz (por "Florence: Quem É Essa Mulher?"). Ganhou três vezes.

O fato é que, nessa categoria, todos os olhos apontam na direção de Emma Stone, de "La La Land", neste momento a grande aposta de Hollywood como futura grande estrela.

Não chega a ser uma surpresa a indicação de Isabelle Huppert por "Elle". Seja porque está mesmo excepcional, seja porque é a atriz europeia do ano, seja ainda porque marcou presença com força no Globo de Ouro.

"Elle", no entanto, fica fora da disputa para melhor filme em língua não inglesa. Também não é espantoso: por notável que seja, o trabalho de Paul Verhoeven é dotado de uma agressividade que o afasta de uma disputa tipo Oscar.

A lista de candidatos a melhor filme "em língua estrangeira" serve para lembrar que o Brasil bem poderia ter emplacado uma candidatura este ano. "Aquarius" é um filme próximo de "Elle", que ganhou o Globo de Ouro, mas infinitamente menos agressivo. A comissão brasileira encarregada do assunto optou pela insignificância vingativa : é pena, porque o cinema brasileiro atravessa um momento em que um prêmio dessa ordem significaria uma afirmação importante.


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