Folha de S. Paulo


Made in Brazil comemora com shows cinco décadas de fidelidade ao rock

"Todos dizem que tocar rock é mole/ mas vou logo dizendo/ que não é mole, não." São versos de "Uma Banda Made in Brazil", canção de 1978 que serve como manifesto de um grupo paulistano que completa agora 50 anos.

A longevidade do Made in Brazil, celebrada com shows nesta sexta (20) e sábado (21) em São Paulo, é soberana no rock nacional. Mesmo no cenário mundial, é incomum.

E um detalhe é importante. Os Rolling Stones, na estrada desde 1962, já tiveram longos períodos de inatividade, passando até dez anos sem gravar e oito temporadas sem nem um show sequer. O Made in Brazil nunca parou.

Avener Prado/Folhapress
Os irmãos Oswaldo (à esq.) e Celso Vecchione, fundadores da banda Made in Brazil
Os irmãos Oswaldo (à esq.) e Celso Vecchione, fundadores da banda Made in Brazil

"O máximo que conseguimos ficar sem tocar é um mês, um mês e meio. Mesmo assim, quase sempre devido a alguma troca de integrantes", diz à Folha o cantor e baixista Oswaldo Vecchione Junior, 69, que fundou a banda com o irmão Celso, 67, guitarrista.

Ele é o empresário do grupo. Até 1974, quando lançou o primeiro álbum, homônimo, a banda formada em 1967 no bairro da Pompeia era conhecida apenas em algumas cidades do Estado.
sucesso nacional

Com o LP nas lojas, passou a viajar pelo Brasil todo. "Desde então estamos em turnê permanente. Naquela década, conseguimos gravar um disco a cada dois anos."

Divulgação
Oswaldo Vecchione (centro) e Celso Vecchione (à dir.) em capa do álbum da banda de 1976
Oswaldo Vecchione (centro) e Celso Vecchione (à dir.) em capa do álbum da banda de 1976

A discografia seguiu com "Jack, o Estripador" (1976), "Pauliceia Desvairada" (1978) e "Minha Vida É Rock'n'Roll" (1981). Ficou pelo caminho o álbum "Massacre", que teve sua gravação interrompida em 1977, depois que metade das músicas foi previamente vetada pela censura.

Nos anos 1980, justamente a década de afirmação de um rock nacional de Titãs, Paralamas e Legião, o Made perdeu espaço e começou a lançar discos em intervalos maiores. No total, são 14 álbuns na carreira da banda.

"O que dominava nos anos 1980 não era rock, era pop. Bandas tinham visual rock, mas tocavam outra coisa. Nessa época, foi o público mais velho que sustentou a banda", afirma Oswaldo.

Para ele, se as bandas dos anos 1970, como Made, O Terço, Casa das Máquinas e O Som Nosso de Cada Dia, tivessem o mesmo apoio dado pela mídia nos 1980, a história do rock brasileiro teria sido escrita de modo diferente.

Nos anos 1990, Oswaldo ficou preocupado com a falta de renovação na plateia. "Nosso público estava envelhecendo junto com a banda. Mas, naquela época, bandas novas elegeram os anos 1970 como uma referência sonora. Mutantes, Rita Lee, Casa das Máquinas e Made a passaram ser mais escutadas."

Hoje, há uma mistura de gerações nos shows. Oswaldo credita a longevidade à postura fiel do Made ao rock, blues e rhythm and blues.

"A ideia original, há 50 anos, era formar uma banda de rhythm and blues, um som calcado nos Stones e no Animals. E seguimos assim. Nunca fomos atrás do que estava na moda. Não gravamos balada açucarada para entrar em trilha de novela."

RECORDES
Até hoje, 126 músicos passaram pela banda, em 203 formações diferentes. Oswaldo pensou em registrar os números de integrantes no "Guinness Book", mas, para reivindicar, esse recorde mundial precisaria de declarações assinadas por cada músico, todas com duas testemunhas e firma reconhecida em cartório. "Era tanta burocracia que deixei quieto", diz.

Satisfeito com a carreira, ele acha que os grupos dos anos 1970 poderiam ter tido mais espaço, mas faltou união das bandas e também empresários melhores.

"Havia muito aventureiro, picareta, gente louca mesmo. O cara te contratava, prometia um show com isso e aquilo, aí chegava no dia o sujeito tomava um ácido e sumia", recorda Oswaldo, rindo.

SHOWS
O Made in Brazil convidou veteranos do rock brasileiro para as apresentações no Sesc Pompeia.

Um deles é Serguei, 83, lendário cantor carioca que tentou duas vezes fazer parte da banda. "Não deu certo por ele morar no Rio, mas ficamos muito amigos,", conta Oswaldo.

Outro convidado é Tony Campello, 79, pioneiro do rock brasileiro que o líder do Made, ainda adolescente, assistia em shows na Rádio Nacional. "Respeito demais essa geração."

Tocam também o guitarrista Luis Sérgio Carlini, 64, do Tutti Frutti -"o amigo que mais gravou com a gente"-, e Simbas, ex-vocalista do Casa das Máquinas, que cantará músicas do primeiro álbum do Made, em tributo a Cornelius.

MADE IN BRAZIL
QUANDO sexta (20) e sábado (21), às 21h30
ONDE Sesc Pompeia, r. Clélia, 93, tel. (11) 3871-7700
QUANTO de R$ 9 a R$ 30
CLASSIFICAÇÃO 18 anos


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