Folha de S. Paulo


Morre o editor de quadrinhos Toninho Mendes, ao 62 anos

Morreu, na manhã desta quarta-feira (18), em sua casa, o editor de quadrinhos Toninho Mendes, aos 62 anos, vítima de um infarto. A informação foi confirmada à Folha por sua filha Veronica Papoula Mendes.

O editor sofreu um acidente em casa e bateu a cabeça, mas não se sabe se a queda foi provocada por algum mal-estar. Ele chegou a ser socorrido, mas morreu a caminho do hospital.

Em seu perfil no Facebook, a cartunista Laerte chamou Toninho de "herói do quadrinho brasileiro". O editor André Conti, da Companhia das Letras, por sua vez, afirmou que ele era "uma figura cujo tamanho e importância para o quadrinho brasileiro jamais poderá ser medida."

Toninho era um dos mais lendários editores de quadrinhos do país. Próximo de nomes como Angeli, Glauco e Laerte, foi ele o criador da lendária revista "Chiclete com Banana" (mesmo nome da série de tirinhas de Angeli) e depois da revista "Circo". Eram publicações que, nos anos anos 1980, chegaram a vender mais de cem mil exemplares.

A relação do editor com os quadrinhos começou na infância, quando ele passou a trabalhar em uma banca para conseguir ter seus primeiros gibis. Naquela época, seus prediletos eram o "Tio Patinhas", o "Fantasma" e o "Tarzan". A amizade com Angeli começou na mesma época.

O encanto com a parafernália da produção gráfica veio quando Toninho trabalhou numa escola de desenho, no fim dos anos 1960: foi ali que conheceu o prazer tátil da composição dos livros.

Os anos 1970 ele passou pulando de editora em editora, aprendendo em cada uma novos lados do ofício. Teve também uma passagem pelo lendário jornal alternativo "Movimento" e pelo "Versus". Neste, era o único funcionário, o que lhe dava muito autonomia para experimentar na edição.

A primeira editora foi a Marco Zero, surgida no começo de 1980. Entre livros de poesia, foi por lá que saiu o primeiro livro de Chico Caruso, "Natureza Morta", com as caricaturas que o artista fazia para a revista "Isto É".

O "Versus", dizia ele, foi uma experiência fundamental para, nos anos 1980, abrir a Circo Editorial — foi lá que Toninho publicou a primeira história em parceria com Angeli. No jornal alternativo, Toninho também já tinha como colaboradores muitos dos artistas que publicaria em sua editoria, como Luiz Gê e Chico e Paulo Caruso.

A lendária casa de quadrinhos surgiu no dia 25 de abril de 1984, dia em que o Congresso derrubou a proposta de eleições diretas no país, com a "Chiclete com Bana" —nome da série que Angeli passara a publicar na "Ilustrada". Com o apoio de Caio Graco, as publicações eram distribuídas pela editora Brasiliense.

Foi na Circo que a Rê Bordosa, de Angeli, se transformaria em um fenômeno de popularidade. Por lá, também sairiam a "Geraldão", com os personagens de Glauco, e "Níquel Náusea", com os bichos de Fernando Gonsales.

Há três anos, Toninho contou história da editora no livro "Humor Paulistano - A Experiência da Circo Editorial 1984 - 1995" (Sesi-SP).

Quando a Circo Editorial foi entrando em marcha lenta até acabar, Toninho passou por outras casas, como a Samba e a Devir. Em 2006, chegou a preparar uma coleção para a L&PM. A Peixe Grande, editora criada para contar a história da pornografia e da censura no país, surgiu em 2010.

Ao longo dos anos, Toninho também escreveu poesia — a maior parte dela inédita. Um desses textos, "Confissão para o Tietê", foi escrito durante dez anos e publicado em 1980. Ao fim do poema, Toninho faz uma declaração de amor ao rio: "mas eu - velho Tietê - não sou com eles/ eu te compreendo & te amo/ e se um dia resolver deixar esta vida/ darei de bom grado esta carne às tuas águas".

Toninho deixa três filhas, de dois casamentos diferentes. Seu corpo será velado até as 13h desta quinta (19) no cemitério do Araçá. O enterro será na tarde de quinta (19) no cemitério Parque dos Pinheiros, no Jaçanã, na zona norte paulistana.


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