Folha de S. Paulo


Arquiteto da Berrini, Carlos Bratke morre aos 74 anos em São Paulo

Leonardo Colosso/Folhapress
Arquitetura: o arquiteto Carlos Bratke que assinou 52 projetos de edifícios comerciais na avenida Luiz Carlos Berrini [foto]. [FSP-Imóveis-23.02.95]*** NÃO UTILIZAR SEM ANTES CHECAR CRÉDITO E LEGENDA***
Carlos Bratke há 20 anos, em 1997, na Berrini, onde assina cerca de 60 projetos

Inventor dos contornos futuristas e reluzentes das torres de aço e vidro da Berrini, na zona sul de São Paulo, o arquiteto Carlos Bratke morreu, aos 74, nesta segunda. Ele passou mal quando foi almoçar em casa, mas médicos ainda investigam a causa da morte.

Filho do modernista Oswaldo Bratke, o arquiteto iniciou sua carreira na década de 1960 ainda sob forte influência da chamada escola paulista de arquitetura, marcada pelo uso expressivo do concreto aparente e pela exaltação da estrutura dos edifícios como espetáculo de força e equilíbrio.

Mas Bratke logo passou a questionar a cartilha brutalista e se firmou como um dos maiores nomes entre os chamados não alinhados ao estilo que dominava as faculdades de arquitetura da cidade.

Sua obra, de grande apelo comercial, acabou se consolidando como uma investigação do potencial das estruturas, que permitem enormes pavimentos livres de pilares, ao mesmo tempo em que exalta na superfície um impacto que ele mesmo reconhecia como algo de ficção científica.

O Plaza Centenário, um de seus prédios mais vistosos na Berrini, resplandece em seu revestimento metálico. Não por acaso, o estrutura com quatro torres circulares ganhou o apelido de RoboCop.

Mesmo famoso hoje pelo uso intensivo de aço e vidro, materiais-fetiche da arquitetura pós-moderna, Bratke primeiro aprendeu a dominar o uso do concreto. Mas, ao contrário de mestres da escola paulista como Paulo Mendes da Rocha, Bratke buscou outro efeito plástico no material.

Um marco dessa experimentação é o edifício Bandeirantes, um dos primeiros que construiu na Berrini. Nele, um bloco de ângulos retos é ladeado por estruturas circulares de concreto, uma espécie de adorno que protege as janelas da luz intensa do sol.

Ao longo dos anos, Bratke foi diluindo a austeridade brutalista para chegar a um estilo mais fluido, que embaralha referências, o que ajuda a entender seu interesse tanto pela obra de Rino Levi, um dos maiores nomes do modernismo brasileiro, quanto pela do canadense Frank Gehry, arquiteto do Guggenheim de Bilbao, na Espanha, famoso por suas formas fantásticas.

Ele também fez da casa que construiu para viver com a família no Morumbi, na zona oeste paulistana, um projeto nada convencional, invertendo a posição dos quartos e das áreas de estar -ali, os espaços de dormir ficam no piso inferior à sala, algo que pensou para isolar a residência dos barulhos da rua.

POLÊMICA
Suas soluções inventivas, no entanto, não conquistaram a crítica. Bratke era atacado por fazer o que muitos viam como pastiche da pior arquitetura corporativa e por repetir algumas estratégias em seus prédios de escritórios.

Em sua defesa, chegou a dizer que os brasileiros eram "caipiras" demais para aceitar as formas que sua firma estava propondo. Ele também comprou briga com o arquiteto uruguaio Rafael Viñoly, que disse que a arquitetura corporativa no Brasil era "muito ruim".

"Aqui existe boa arquitetura e má arquitetura, como em muitos outros lugares do mundo", rebateu Bratke, há quatro anos. "Acho que o Viñoly é um grande arquiteto, mas ele está dizendo essas coisas porque quer trabalhar no Brasil; muitos arquitetos estrangeiros estão vindo para cá, e ele está procurando mercado."

Além de se dedicar a seus projetos, Bratke também assumiu cargos na diretoria do Instituto de Arquitetos do Brasil e na Fundação Bienal.


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