Folha de S. Paulo


Donald Trump minimiza discurso de Meryl Streep: 'Ela ama Hillary'

Veja momentos da cerimônia

O presidente eleito Donald Trump descartou Meryl Streep com a expressão "ela ama Hillary", segunda-feira (9) de manhã, depois que a atriz o denunciou, em discurso na premiação do Globo de Ouro, como fanfarrão que desrespeita e humilha os outros.

Trump, em curta entrevista por telefone, disse que não havia assistido ao discurso de Streep ou a outras porções da cerimônia do Globo de Ouro, transmitida pela rede de TV NBC, mas que "não estava surpreso" por ter sofrido ataques "dos progressistas do cinema".

A entrega dos prêmios Globo de Ouro foi a última cerimônia importante em Hollywood antes da posse de Trump em 20 de janeiro, uma transferência de poder que muita gente lastima em Hollywood.

Embora as declarações contra Trump durante a cerimônia tenham sido relativamente discretas, Streep, uma das pessoas mais declaradamente progressistas no mundo do cinema, fez severas críticas à capacidade de Trump como comunicador, cumprimentando-o sarcasticamente por seus exageros de estilo, que ela praticamente definiu como "insidiosos".

"Este ano, houve um desempenho que me espantou —foi como se fincasse garras no meu coração", disse Street. "Não porque foi bom; não havia nada de bom nele. Mas foi efetivo e fez o trabalho que deveria. Fez com que a audiência alvo risse e arreganhasse os dentes".

"Foi aquele momento em que a pessoa que estava buscando o mais respeitado posto em nosso país imitou um repórter deficiente", ela disse, em referência a um discurso de Trump em 2015 quando ele estremeceu e moveu seus braços desordenadamente, aparentemente imitando um repórter deficiente do "New York Times". "Assistir àquilo partiu meu coração, e não consigo tirar a imagem da cabeça, porque não era um filme. Era a vida real".

Kovaleski

Trump, como já aconteceu em muitas ocasiões anteriores, perdeu a calma na entrevista, negando terminantemente que tivesse tentado zombar de Serge Kovaleski, o repórter em questão.

"Não estava zombando de ninguém", disse Trump. "Estava questionando um repórter que ficou nervoso porque mudou sua história". Trump argumentou que o repórter estava tentando retrair um artigo que escreveu em setembro de 2001 sobre os ataques terroristas ao World Trade Center e outros locais, naquele mês.

"As pessoas continuam dizendo que minha intenção era zombar da deficiência física do repórter, como se Meryl Streep e outros fossem capazes de ler minha mente, e eu não fiz isso", ele disse na entrevista.

"E lembre-se: Meryl Streep apresentou Hillary Clinton na convenção democrata, e muitas dessas pessoas a apoiavam", disse Trump, em referência a um discurso de Streep na convenção nacional do Partido Democrata, no ano passado, em favor de sua oponente, Hillary.

A ardilosa denúncia de Street a Trump —a quem ela jamais mencionou pelo nome— atraiu aplausos de muitos dos demais atores presentes à cerimônia, mas também foi criticada online por aliados do presidente eleito, como Sean Hannity, e por alguns republicanos, como Meghan McCain, que criticam Trump, mas consideram que os progressistas de Hollywood só servem para intensificar o apoio que ele recebe de seus partidários.

O discurso de Streep não parecia ter a intenção de conquistar simpatia —ela falou mal de futebol americano e de MMA, em certo momento—, mas, sim, expressar raiva e frustração, antes da posse de Trump.

"O instinto de humilhar, quando modelado por alguém —alguém poderoso— em uma plataforma pública, se infiltra na vida de todos, porque como que autoriza outras pessoas a fazerem o mesmo", ela disse. "Desrespeito gera desrespeito, violência incita violência. E, quando os poderosos usam sua posição para intimidar os outros, todos saímos perdendo".

Trump disse que, excetuados Streep e seus aliados, ele estava confiante em que haveria forte presente de celebridades em sua posse.

"Teremos um público inacreditável, talvez recorde, em nossa posse, e haverá muitos astros do cinema e do entretenimento", disse Trump. "O estoque de todas as lojas de vestidos de Washington está esgotado. É difícil encontrar um vestido bonito para essa posse".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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