Folha de S. Paulo


Na moda, 2016 levou estetas da imagem e precursores do estilo

Arquiteto de todas as bases da moda, o século 20 já é memória distante para a indústria da costura. Nomes-chave dessa era, cruciais para a formação de quem cria a cartilha contemporânea, morreram neste ano.

Começou, em janeiro, com a perda do estilista francês André Courrèges, aos 92, e do músico inglês David Bowie, aos 69. O primeiro fundou o estilo espacial dos anos 1960; o segundo vestiu essa corrente e foi a Marte com o personagem Ziggy Stardust para, depois, prever movimentos de estilo até os anos 1990.

Três meses depois, foi o cantor americano Prince. Morto aos 57 por overdose acidental de opiáceos, ele marcou a década de 1980 com referências da cultura negra e o apreço pelo romantismo combinado à alfaiataria.

Em junho, o fotógrafo americano Bill Cunninghan morreu aos 87. Não haveria a fotografia de "streetstyle" que conhecemos se ele não enxergasse a beleza crua que pulsava fora das passarelas.

Jacques Demarthon/AFP
A estilista francesa Sonia Rykiel, morta em agosto
A estilista francesa Sonia Rykiel, morta em agosto

E, se hoje os manuais abrem espaço para a liberdade, é porque a francesa Sonia Rykiel, nos anos 1970, pregou o fim da submissão das mulheres à moda. Morta em agosto, a estilista transformou um simples suéter de tricô em uniforme das francesas, ajudando a levar a ideia de elegância além da alta-costura.

Dias antes, o Brasil perdia outro símbolo de liberdade e fashionismo, a ex-modelo Elke Maravilha, aos 71. Sua beleza incomum abriu a mente da moda da época.

Mesmo serviço prestou ao mundo a chinesa China Machado. A primeira top asiática mostrou a beleza estrangeira ao círculo fechado da moda dos anos 1950, furou o preconceito e modelou para a alta-costura europeia.

Alta-costura que o Brasil fez da sua maneira entre os anos 1960 e 70 e que, na véspera deste Natal, perdeu seu último nome relevante: Guilherme Guimarães, morto no Rio, ao 76, deixando um legado de roupas exuberantes para socialites e de figurinos, como o de "Terra em Transe" (1967), de Glauber Rocha, e de espetáculos teatrais.

Uma das últimas perdas deste ano foi um resumo de um século cheio de referências glamorosas, de roupas exuberantes e de percepção do estilo como uma mensagem a ser passada ao mundo.

A italiana Franca Sozzani, diretora da "Vogue" italiana, morreu de câncer aos 66. Como todos os estetas que partiram neste ano interminável, ela conhecia o poder de uma imagem bem construída sobre a vida das pessoas.


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