Folha de S. Paulo


ANÁLISE

George Michael se provou mais do que um chiclete sonoro

Numa carreira fonográfica de 33 anos, foram só oito álbuns. Três com o Wham! e cinco de estúdio em carreira solo. Se parece pouco, é possível radicalizar mais ainda.

Bastam dois discos para provar a capacidade inegável de George Michael para produzir sucessos, uma mistura de baladas românticas derramadas e dance pop arrebatador. "Make It Big" (1984), o segundo álbum do Wham!, e "Faith" (1987), o disco de estreia solo, são obras que se completam para mostrar o que ele fez de melhor.

No primeiro, deixa claro que tinha mais a exibir do que o chiclete sonoro da dupla com Andrew Ridgeley.

"Wake Me Up Before You Go-Go" era um grande passo em busca do pop perfeito, mas poderia ser apenas resultado de dois garotos acertando a mão numa canção.

O que dizer, no entanto, de "Careless Whisper"?

É daquelas raras canções que, além de grudar no ouvido, não cansam o ouvinte. Era evidente, depois do lançamento, que surgira para frequentar as noites radiofônicas pelas décadas seguintes. E foi o que aconteceu.

Gravou "Faith", no qual canta e compõe tudo, produz as faixas sozinho e toca vários instrumentos. Talvez a crítica mais engraçada tenha sido publicada no semanário britânico "Melody Maker", que o chamou de "versão branca de Prince".

Seis faixas se tornaram singles de sucesso: "I Want Your Sex", "Faith", "Father Figure", "One More Try", "Monkey" e "Kissing a Fool". O álbum vendeu 25 milhões de cópias, ajudado por músicas impecáveis e o clipe de "I Want Your Sex", apologia ao sexo casual com cenas quentes.

O cantor percebeu que imagem era quase tudo. No clipe de "Faith", esculpiu um registro visual que marcaria época: botas de caubói, óculos espelhado, jeans Levi's e jaqueta de couro.

Mas também provocou furor fora de cena, no clipe de "Freedom '90!", do álbum, "Listen Without Prejudice Vol. 1" (1990). A canção é dublada por várias supermodelos, entre elas Naomi Campbell e Cindy Crawford.

Nos anos 2000, lançou só dois discos, "Patience" (2004) e o ao vivo "Symphonica" (2014), que não chegam perto de sua produção inicial.

Ao vivo, como viram os brasileiros no Rock in Rio de 1991, George Michael era uma força da natureza.

Em 1990, durante um show londrino de sua apagada carreira solo, Andrew Ridgeley disse à plateia: "Que bom ver vocês aqui, só para me ver. É generoso, porque todos nós sabemos que o gênio era o outro, não?". Resumiu tudo.


Endereço da página:

Links no texto: