Folha de S. Paulo


Crítica

Paulo Gustavo revive dona Hermínia em 'Minha Mãe É uma Peça 2'

Downtown/Paris
Minha mãe é uma peça 2 [Brasil, 2015], de César Rodrigues (Downtown/Paris). Gênero: comédia. Elenco: Paulo Gustavo, Herson Capri, Mariana Xavier. Classificação: 12 anos ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Paulo Gustavo interpretando dona Hermínia em novo filme

Paulo Gustavo é um fenômeno cômico do teatro, da TV e do cinema brasileiros ainda a ser estudado. Desde 2011, o ator e dramaturgo de 38 anos emenda um programa ao outro no canal Multishow, como "220 Volts" e "Vai que Cola", sempre com boa audiência.

O monólogo "Minha Mãe É uma Peça", que estreou em 2006, já levou mais de 3 milhões de pessoas ao teatro e lhe rendeu uma indicação ao prêmio Shell de melhor ator.

Sete anos depois, o espetáculo sobre uma mãe de Niterói que vive prestes a sofrer um ataque de nervos deu origem ao filme de mesmo nome, visto por mais de 4,6 milhões, marca que o tornou o brasileiro mais assistido do ano.

O filme de 2013 tinha como mérito –o único, talvez– apresentar a um público mais abrangente um humorista notável. Ele exibia um timing raro para as piadas e uma flexibilidade corporal que enriqueciam a caracterização da personagem de dona Hermínia, inspirada na sua mãe.

Mas o roteiro era precário, o que comprometia especialmente as cenas cômicas dos demais atores. Em diversos momentos, esse primeiro filme nos fazia acreditar estar diante de um punhado de esquetes rasas, das quais só mesmo Paulo Gustavo se salvava.

Neste "Minha Mãe É uma Peça 2", a direção muda –sai Andre Pellen, assume César Rodrigues, de "Vai que Cola". Mas o roteiro continua sob os cuidados do próprio Paulo Gustavo e de Fil Braz.

Se o objetivo do protagonista e da sua equipe neste novo filme fosse apenas apresentar um caça-níquel, bastaria retomar a articulação esquemática do primeiro. No entanto, a comédia transmite a impressão de que as estratégias foram reavaliadas, e o avanço é evidente. Como se soubessem que há chance de êxito comercial longe da mesmice e da vulgaridade.

O filme recém-lançado retrata a ansiedade da mãe diante da saída dos dois filhos de casa. Ela apresenta um programa na TV sobre vida familiar, mas se vê o tempo todo incapaz de lidar com a sua.

Que não se espere, portanto, uma trama intrincada. Mas o roteiro exibe um grau razoável de coesão e fluência, e as obviedades nos diálogos aparecem apenas pontualmente. É um filme a que se assiste com prazer, como uma "Sessão da Tarde" despretensiosa, claramente superior à maioria das comédias que invadem os cinemas no Brasil.

As qualidades de "Minha Mãe é uma Peça 2" não se restringem, porém, à história mais bem amarrada. No papel de Lucia Helena, a irmã de Hermínia que vive em Nova York, Patrycia Travassos nos faz lembrar da boa comediante que é.

Outra participação divertida (e breve) é de Hugo Possolo, dos Parlapatões, como um taxista que se aflige com a apreensão de Hermínia. Aliás, o cinema brasileiro só teria a ganhar com outros encontros assim, entre diferentes gerações do humor.

Mas o trunfo é mesmo Paulo Gustavo. Seu domínio da personagem é absoluto, com precisão em tiradas, gestos, entonação de voz. Faz proezas como se tudo fosse extremamente natural.

Caso se exponha ao risco, percorrendo outras pistas do humor, ele pode ser lembrado daqui a alguns anos como o melhor ator cômico brasileiro da sua geração.

MINHA MÃE É UMA PEÇA 2
DIREÇÃO César Rodrigues
ELENCO Paulo Gustavo, Herson Capri, Patricya Travassos
PRODUÇÃO Brasil, 2016, 12 anos
QUANDO em cartaz
AVALIAÇÃO bom


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