Folha de S. Paulo


Alberto Hiar revive a Zoomp, marca que ajudou a cunhar o jeans brasileiro

Aos 51 anos, Alberto Hiar, o Turco Loco, já foi muitos.

Foi o moleque da favela de Heliópolis, em São Paulo, que vendia sacos de farinha pela rua. Foi o jovem do bairro do Ipiranga que fazia propaganda das camisetas da sua loja na TV, gritando "O turco ficou louco!" –embora seja filho de libaneses. Foi ainda o vereador e o deputado estadual pelo PSDB paulista.

Desde os 30 anos, Hiar está à frente da Cavalera, marca ligada ao universo pop, com 30 lojas próprias e dez franquias. Agora, quer ser a nova cara do jeans brasileiro.

No início de 2017, sua empresa, a K2, lançará a nova coleção da Zoomp, marca que ao surgir, em 1974, ajudou a criar o estilo brasileiro de 'jeanswear', acrescentando sensualidade à modelagem.

"A Zoomp foi a primeira marca que me inspirou", conta Hiar, que se iniciou como empresário de moda aos 17, ao abrir uma estamparia.

Sob os cuidados do seu criador, Renato Kherlakian, a Zoomp cresceu vigorosa nos anos 1970 e se manteve no ápice da moda brasileira ao longo dos 80 e 90.

Nos anos 2000, contudo, entrou em declínio. Em 2006, foi comprada pela empresa Identidade Moda (I'M), que logo anunciou falência. Uma gestora de fundo de crédito, a Global Capital, assumiu a marca. Os credores, no entanto, resolveram levar a Zoomp a uma espécie de leilão, e a proposta de Hiar foi aceita.

Era apenas o início de uma novela judicial, que tem se arrastado pelos dois últimos anos, envolvendo Hiar, a Global Capital e os credores.

O empresário não descarta a chance de novos capítulos, mas diz estar resguardado por seguidas vitórias nos tribunais, além de contar com o apoio de bancos. A aquisição vai custar à K2 R$ 20 milhões, dos quais R$ 5 milhões já foram depositados.

Entre os problemas da marca, diz ele, havia a falta de critérios para a escolha dos pontos de venda. "A Zoomp estava na UTI, e eu precisava dos melhores médicos para tirá-la desse estado", diz Hiar, que distribui frases de efeito ao longo da entrevista, na sede da Cavalera, no Ipiranga.

Um dos "médicos" dessa nova fase vem dos EUA. É a modelo Anna Cleveland, 27, que será o rosto e o corpo da Zoomp. Com um estilo performático, ela tem angariado admiradores, como o francês Jean Paul Gaultier.

Quando Anna nasceu, em 1989, a Zoomp já tinha uma década e meia de vida. Passado tanto tempo, o famoso símbolo do raio continua. Mas como a nova versão vai se diferenciar da de outrora? Com a tecnologia, especialmente, responde Hiar.

Ele comenta os recursos que serão incorporados à nova Zoomp. Além de novas técnicas de lavanderia, planeja importar da Turquia um uso mais refinado do elastano.

"Sempre se falou que o melhor jeans do mundo era o japonês e depois o brasileiro. Hoje isso não é mais verdade. Visitei as fábricas na Turquia e fiquei impactado ao ver como estamos atrasados em relação à tecnologia deles. Atualmente o melhor jeans do mundo é turco", acredita.

Tecnologia e matérias-primas importadas têm seu custo, e os admiradores da nova Zoomp sentirão no bolso: os preços das calças vão variar entre R$ 350 e R$ 700.

A nova Zoomp não terá diretor de criação –a área ficará a cargo de um grupo de jovens profissionais. Renato Kherlakian, aliás, não participa desse relançamento.

A partir de janeiro, a coleção poderá ser vista por clientes habituais e formadores de opinião em um showroom no Alto de Pinheiros. Em março, as peças chegam a lojas multimarcas –não há previsão de unidade própria.

O empresário exalta a história da Zoomp, fixada na memória do brasileiro,diz. Crê que possa retomar o prestígio da marca e recuperar o que investiu. "Se lucrar é pecado, quero ser pecador."

Seu entusiasmo com a Zoomp contrasta com certo desânimo em relação à moda brasileira em geral. "A gente [empresários de moda] não sabe brigar pelo que quer", avalia Hiar, para quem a política é fundamental para alavancar ou prejudicar a moda.

"Hoje, no Brasil, sou tributado por ser criativo. É um absurdo! É o que sempre digo, nossa política é cafona", diz.

Hiar foi vereador em São Paulo por um mandato e deputado estadual por dois entre os anos 1990 e 2000. Foi filiado ao PSDB, mas deixou o partido. "Resolvi fazer isso porque não gosto da maneira com que o Geraldo Alckmin toca o governo do Estado. Ele fala em inovação, mas não existe uma na gestão dele."

Na sessão de fotos, Hiar lamenta que não haja um vereador que represente o Ipiranga. Mas logo a conversa muda. A confecção de um jeans lhe interessa mais que as costuras da política.


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