Folha de S. Paulo


Rir da política é desabafo, diz Tom Cavalcante

Temer e Dilma se reencontraram –ao menos, nos bastidores do humor. No "Multi Tom", programa de Tom Cavalcante que encerra sua segunda temporada nesta sexta (16) no Multishow, os antigos aliados políticos se enfrentaram pela primeira vez após o impeachment na CPI (comissão parlamentar de intrigas), presidida na TV pela paródia do peemedemista.

No esquete, sósias de políticos e famosos (como Caetano Veloso) debatem questões como a carreira de youtuber de Fernando Henrique e o vazamento de "nudes" no Congresso. Há um congressista de fato na piada: Tiririca, que interpreta a si mesmo.

A novidade do humorístico neste semestre foi a "posse" de Tomer, versão de Tom Cavalcante para Michel Temer.

Tomer

Um vídeo da sátira, publicado no Facebook antes da estreia do programa, foi visto por 4,1 milhões de pessoas.

Na pele do peemedebista, ele já se cobriu com uma capa vampiresca, discursa com retórica própria dos advogados, exagera os gestos com as mãos e abusa das mesóclises: "Aqueles que interferirem no progresso do Brasil, lascá-lo-ei-os [sic]".

Quem é e como age Michel Temer? "Ainda estou estudando", diz Tom. "Ele é muito articulado, é um tribuno. Vivo recebendo sugestões de amigos: 'mexe mais a mão, põe mais mesóclise'."

O humorista é integrante assíduo da audiência da TV Senado ("se dá um ponto [de ibope] sou eu, que assisto todos os dias") e da "Voz do Brasil", no rádio, que consome tomando notas e guardando frases para seus roteiros.

As imitações, porém, só ganham corpo quando Tom consegue associar a figuras públicas trejeitos de pessoas com quem já conviveu.

"O Temer se parece com um cara lá de Fortaleza, um jornalista que era comentarista político e falava de uma forma muito prolixa, também."

Desde FHC, não houve presidente que não tenha sido satirizado por Tom Cavalcante. "Meu humor não tem lado –mexo com Temer e com a Dilma. Estou acima disso." Politicamente, diz não apoiar nenhum dos dois: "Eu sou Brasil". "Nunca votei neles, mas torcia por Lula e Dilma. Agora torço para que as coisas melhorem, urgente."

Sobre o impeachment, diz pensar que pesaram mais "as relações ruins da Presidência, que se acercou de gente incompetente". Ele concorda com a tese de crime de responsabilidade: "As paixões falam de golpe. Por outro lado, você vê números catastróficos na economia. O Brasil é um país falido, com 17 milhões de desempregados."

RIR PARA NÃO CHORAR

"No instante em que o povo ri, acho que é uma espécie de... desabafo. De boa mesmo, sem ódio, mas ri quando vê esse instrumento, que sou eu, sacaneando esses caras dessa politica tão acachapante."

CPI - Multi Tom

Satisfeito com os resultados do "Multi Tom", o Multishow encomendou à produtora Formata mais duas temporadas para 2017. As gravações já retornam em março.

As sátiras políticas estão na pauta das discussões entre executivos do canal pago, e podem ganhar mais espaço no ano que vem –hoje, entram na parte final do "Multi Tom", cujo principal atrativo é um talk show comandado por personagens clássicos do humorista, como Ribamar (criado no "Sai de Baixo").

Há também a possibilidade de a atração se tornar mais quente e ser produzida toda semana, em vez de ficar pronta com antecedência.

Tom já prepara uma nova imitação: quer recuperar Roberto Justus, que imitou quando esteve na Record em "O Infeliz", sátira do reality "O Aprendiz". Para o caso de o apresentador e empresário realmente confirmar sua pré-candidatura à Presidência.

NA TV
Multi Tom
QUANDO às 21h30, no Multishow


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