Folha de S. Paulo


Justiça autoriza venda de obras de Edemar Cid Ferreira que estão no MAC

Uma decisão judicial acaba de autorizar o leilão das obras de Edemar Cid Ferreira que estão sob a guarda do Museu de Arte Contemporânea da USP. Essas 600 peças avaliadas em R$ 6,1 milhões deverão ir a leilão, organizado pelo marchand Aloísio Cravo, o mesmo que conduziu a recente venda das obras que estavam na casa do ex-banqueiro em São Paulo, já em fevereiro ou março do ano que vem.

Isso encerra um período de mais de uma década em que os trabalhos, entre eles um painel de Frank Stella e uma extensa coleção de fotografia contemporânea, permaneceram no MAC. Há dois anos, a Justiça autorizou a retirada de dois deles, obras do americano Roy Lichtenstein e do uruguaio Joaquín Torres-García, para que fossem leiloados em Nova York.

Há anos agentes do MAC e do governo, em especial do Instituto Brasileiro de Museus, órgão responsável por essas instituições no Ministério da Cultura, vêm tentando evitar que isso acontecesse, argumentando que a conservação dessas obras ao longo dos anos teve um custo para o museu e que o interesse público deveria ser levado em conta antes dos interesses dos credores da massa falida do Banco Santos.

Reprodução
"Modern Painting With Yelow Interweave"", de Roy Lichteinstein, da coleção do ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira

"Qualquer obra no museu exige conservação, cuidados. Então tudo isso gera custos não só para o MAC mas para qualquer museu que tenha obras em juízo guardadas", diz Carlos Roberto Ferreira Brandão, diretor do MAC e ex-presidente do Ibram (Instituto Brasileiro de Museus). "Elas estão todas nas nossas reservas técnicas muito bem acondicionadas e cuidadas."

Brandão afirma que, quando presidente do Ibram, ele insistiu que ao menos os leilões fossem realizados no Brasil, para que o órgão federal pudesse exercer seu direito de preferência nesse tipo de venda e arrematar as peças para uma coleção pública, mas o juiz do caso foi contra a decisão e as peças acabaram sendo vendidas em Nova York.

Ele acrescenta ainda que a Universidade de São Paulo, responsável pelo MAC, já calcula o quanto a conservação dessas obras custou ao museu e estuda maneiras de reverter essa decisão ou ao menos conseguir que a instituição seja ressarcida pelos cuidados com esse patrimônio que agora será vendido.

"Essas obras que estão em poder de museus públicos serão devolvidas para ressarcir credores, que eram pessoas que estavam tendo lucros em relação a seus investimentos no Banco Santos, lucros extraordinários", diz Brandão. "Nossa estratégia é favorável ao interesse público. O que está em jogo é quais interesses serão satisfeitos. Eu advogo que o interesse público seja contemplado e não apenas o interesse privado."

Outras obras que pertenciam a Cid Ferreira vêm sendo vendidas em leilões no exterior ao longo dos últimos meses. Em outubro, uma tela de Jean-Michel Basquiat que pertencia ao ex-banqueiro foi vendida em Londres por cerca de R$ 42 milhões. Há um mês, as 917 obras que estavam na casa de Cid Ferreira foram leiloadas em São Paulo, arrecadando cerca de R$ 12 milhões, enquanto outras peças foram arrematadas em Nova York por mais R$ 9 milhões.

Quando o Banco Santos faliu, deixou um rombo de cerca de R$ 3,2 bilhões. As obras de arte de Edemar Cid Ferreira, ex-dono da instituição financeira, foram então lacradas em sua casa no Morumbi ou destinadas a museus. Sete instituições, entre elas o MAC, receberam as peças em juízo.

Os credores do banco receberão agora cerca de R$ 150 milhões, angariados com a venda de bens de Cid Ferreira, entre eles obras de arte. Será o quarto pagamento realizado aos credores desde que o banco faliu.


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