Folha de S. Paulo


Nova montagem do musical 'Rent' mira geração virtual 'alienada'

Quando estreou "Rent" em Nova York, em 1996, o dramaturgo e compositor Jonathan Larson disse que queria "levar a geração MTV ao teatro".

Vinte anos depois, a nova montagem do musical, que estreia nesta quarta-feira (14) em São Paulo, pretende levar a "geração celular" à plateia, conta a diretora Susana Ribeiro. "Estamos tentando tirar as pessoas da imobilidade, do virtual, e levá-las para a relação, que acontece no presencial, na rua."

De fato, tudo na história se pauta pelas relações. No caso, as de um grupo de jovens artistas. Larson se inspirou em "La Bohème", ópera de Giacomo Puccini (1858-1924) sobre uma trupe de boêmios na Paris dos anos 1830. Mas em "Rent", a capital parisiense dá lugar à Nova York da década de 1980.

Num loft industrial, vivem o cineasta Mark (papel de Bruno Narchi), que saiu da casa dos pais para tentar uma carreira na cidade, e Roger (Thiago Machado), músico que chegou a fazer certo sucesso numa banda punk, mas perdeu a inspiração depois do suicídio da namorada.

Em meio ao frio da véspera de um Natal, Roger conhece a vizinha Mimi (Ingrid Gaigher), uma stripper por quem se apaixona. Trafega pela vida do trio o professor e expert em computação Collins (Max Grácio), que se enamora de Angel (Diego Montez), drag queen e percussionista de rua.

Há ainda Maureen (Myra Ruiz), performer e ex de Mark que agora namora a advogada feminista Joanne (Priscila Borges). E Benny –vivido por Mauro Sousa, filho do cartunista Mauricio de Sousa–, antigo amigo de Roger e Mark e atual proprietário do imóvel onde a dupla vive, masque agora os visita apenas para cobrar o aluguel do loft.

Larson criou uma rede de pessoas que celebra a vida ao mesmo tempo em que lida com problemas de desemprego, abuso de drogas e a disseminação da Aids –mal da época, como a tuberculose em "La Bohème". O "rent" do título pode tanto significar "aluguel", que os personagens se desdobram para pagar, quanto algo dilacerado.

O autor também inovou no formato ópera-rock, levando ao teatro musical ritmos de pop rock e soul. Larson não chegou a ver a estreia de seu trabalho na Broadway –morreu meses antes, aos 35, de uma dissecção aórtica–, mas acabou arrematando quatro prêmios Tony, entre eles o de melhor musical.

A peça ficou em cartaz por 12 anos na Broadway e virou filme em 2005, dirigido por Chris Columbus e com boa parte do elenco original. No Brasil, teve uma montagem de peso em 1999, com encenação de Tânia Nardini.

COLETIVO

"A gente se vê nesses personagens. 'Rent' é circular, fala de coletivo", comenta Narchi, que também é idealizador da nova montagem e assina a produção ao lado de Bel Gomes. "Quisemos manter o lado trágico dessa história. Cada um com sua própria finitude e se apoiando um num outro", continua Ribeiro.

A ideia de coletividade perpassa toda a peça. "Essa questão de solidariedade, da relação entre as pessoas é muito importante para falar de hoje, do jovem de hoje, que está entendendo que, se ele não ocupar a cidade, ele não se mobiliza e está isolado."

Assim, a cenografia de André Cortez mescla elementos de rua com os ambientes internos. Uma estrutura de vigas faz as vezes de loft e também de postes e calçadas. Barracas contornam a estrutura de metal e remetem aos abrigos de moradores de rua. Cobertores alaranjados também trazem à memória a crise de refugiados na Europa.

O figurino de Fause Haten lembra materiais reutilizados, como se os personagens reaproveitassem o máximo possível na hora de se vestir. A drag queen Angel, por exemplo, faz uma saia a partir de uma toalha de mesa e cria um chapéu com um balde.

Trata-se de uma montagem com orçamento abaixo da média do gênero, na casa dos R$ 2 milhões (musicais grandes ficam na faixa dos R$ 10 milhões), e que terá sessões num horário alternativo do Teatro Shopping Frei Caneca (às terças e quartas).

RENT

QUANDO ter. e qua., às 21h; sessão extra na seg. (19), às 21h; até 21/12 e de 10/1 a 29/3
ONDE Teatro Shopping Frei Caneca, r. Frei Caneca, 569, 7º andar, tel. (11) 3472-2229
QUANTO R$ 100
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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